DOIS SAMBAS SOBRE INFLAÇÃO E PLANOS ECONÔMICOS
Saco de feijão (1977) – Reza a lenda que Chico Santana, um dos baluartes da Portela, temia a gravação desse seu samba, afinal estávamos em plena Ditadura Militar. Mas Beth Carvalho conseguiu convencê-lo e a música foi um sucesso estrondoso.
(Chico Santana)
Meu Deus, mas para que tanto dinheiro
Dinheiro só pra gastar
Que saudade tenho do tempo de outrora
Que vida que eu levo
Eu já me sinto esgotado e cansado de penar
Sem haver uma solução
De que me serve um saco cheio de dinheiro
Pra comprar um quilo de feijão
No tempo do de-réis e do vintém,
sem haver reclamação
Eu ia no armazém do Seu Manuel com um tostão
Trazia, um quilo de feijão
Depois que inventaram o tal cruzeiro,
Eu trago um embrulhinho
E deixo um saco de dinheiro
Partido Cruzado (1986) – Não fez o mesmo sucesso, mas é um documento importante acerca das esperanças (e dúvidas) de um povo absolutamente massacrado por anos e anos de uma inflação descontrolada.
(Aluisio Machado/ Nei Lopes)
Cruz credo, cruzeiro acabado
Começa o cruzado
Tensão no mercado
Tudo congelado
Mas será que dá ?
Será que dá ?
Será que esse povo, coitado
Tão sacrificado,
Tão crucificado,
Vai ressuscitar ?
Será que esse ovo
Do dinheiro novo
No bolso do povo
Não vai estourar ?
Será que operário
que vive um calvário
com esse salário vai se segurar ?
Será que os senhores atravessadores
E especuladores
Vão colaborar ?
O povo só pede licença
Pra fiscalizar
O povo só pede licença
Pra fiscalizar
E a dívida externa
Que manda e governa
Vai fica eterna ou vai se acabar ?
E os capitais das multinacionais
Vão correr atrás
ou vão deixar prá lá ?
Feliz usurários
e proprietários,
latifundiários
Como vão ficar ?
O povo só pede licença
Pra fiscalizar
O povo só pede licença
Pra fiscalizar