/O início da Primeira República: Cronologia de dez anos turbulentos

O início da Primeira República: Cronologia de dez anos turbulentos

A INSTABILIDADE MARCOU OS DEZ PRIMEIROS ANOS DA REPÚBLICA RECÉM-PROCLAMADA

  1. :

Fundação do Clube Militar

O arcebispo da Bahia pede providências às autoridades estaduais contra Antônio Conselheiro, que chega a ser preso em Recife mas é solto

1888:

13 de maio – Abolição;

02 de dezembro – Festejos do aniversário do imperador Pedro II;

dezembro – interrupção, por parte da Guarda Negra, da conferência de Silva Jardim (republicano radical) na Sociedade Francesa de Ginástica com mortos e feridos;

1889:

15 de novembro – Proclamação da República

17 de novembro – Expulsão de D.Pedro II e da família imperial

1890 :

17 de janeiro – Reforma financeira de Rui Barbosa (aumento do meio circulante => “Encilhamento”) que vai gerar inflação e intenso movimento especulativo

22 de junho – sob pressão, Deodoro convoca eleições para a Assembléia Constituinte

15 de setembro – Eleições altamente manipuladas por Deodoro

15 de novembro – Instalada, a Assembléia Constituinte reduz o mandato presidencial de 6 para 4 anos

1891 :

20 de janeiro – Renúncia coletiva dos ministros de Deodoro devido ao escândalo da construção do porto de Torres (RS) com favorecimento de um amigo do presidente

24 de fevereiro – Promulgada a Constituição, federalista e presidencialista, concede a cada estado o direito de contrair empréstimos no exterior, decretar impostos de exportação (favorece SP: o café representava, naquele momento, mais de 60% das exportações brasileiras), reger-se por constituição própria, ter corpos militares, códigos eleitorais e judiciários próprios;

Congresso, sob ameaças e pressões dos militares (que acenavam com uma ditadura) elege Deodoro por uma pequena margem 129 x 97 de Prudente de Moraes; o vice de Moraes, Floriano Peixoto, é eleito com 153 votos contra 57 dados ao Almte. E.Wandelkolk

2 de novembro – Congresso aprova a Lei de Responsabilidades que diminui os poderes do presidente

3 de novembro – Deodoro dissolve o Congresso e prende líderes; impõe a censura total à imprensa do Distrito Federal

22 de novembro – Greve de ferroviários da Central do Brasil; Deodoro ordena a prisão de líderes militares suspeitos (entre eles, Wandelkolk e Custódio de Mello); Custódio de Mello e seus homens tomam dois encouraçados, três torpedeiros e navios menores, aponta os canhões contra a cidade e exige a renúncia de Deodoro;

23 de novembro – Pela manhã, Deodoro passa o cargo ao vice-presidente, Floriano Peixoto, depois de apenas 9 meses de governo;

Floriano restabelece o Congresso Nacional e suspende o estado de sítio;

Entre novembro de 1891 e março de 1892, derruba todos os governadores estaduais (que haviam apoiado Deodoro quando da dissolução do Congresso) exceto Lauro Sodré, no Pará (que fora contrário a Deodoro), substituídos por partidários de Floriano, das oligarquias estaduais ou jovens militares; foram as “derrubadas”;

1892:

janeiro – revolta da Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, comandada por um sargento, mas, ao que parece, instigada por generais e deputados descontentes; manda-se um ultimato a Floriano para que renuncie a favor de Deodoro;

21 de março – Manifesto dos 13 Generais (oficiais do Exército e da Marinha) pedindo que Floriano convocasse eleições;

3 de maio – O Congresso Nacional legaliza a permanência de Floriano (o qual deveria, na verdade, convocar eleições presidenciais, pois ainda não haviam transcorrido dois anos da gestão de Deodoro); Floriano reforma os oficiais e, dias depois, após uma manifestação, manda prender e deportar para a Amazônia numerosos líderes civis e militares (inclusive os 13 generais)

Barata Ribeiro é nomeado prefeito do Rio de Janeiro no fim do ano; ataca os especuladores dos gêneros alimentícios e, em janeiro do ano seguinte, demole o “Cabeça de Porco”;

1893:

ano em que A.Conselheiro teria começado a pregar contra a República segundo E.Cunha; queima dos editais de impostos em B.Conselho; 30 praças são enviados para prendê-lo, sem sucesso; o beato foge para Canudos, no sertão baiano;

2 de fevereiro – oposicionistas do Partido Federalista (“maragatos”), que haviam sido perseguidos por Júlio de Castilhos (apoiado por Floriano) e haviam emigrado para Uruguai e Argentina, invadem o RS, iniciando um novo conflito que vai ser conhecido como Revolução Federalista e visava depor o governo castilhista. Dentre os federalistas estava Silveira Martins, antigo conselheiro do Império; os “maragatos” não eram verdadeiramente federalistas, pois defendiam um poder federal forte (sem Floriano) e a adoção do regime parlamentarista; entre fevereiro e junho sucedem-se as batalhas, com vitórias iniciais para os rebeldes, que por fim são batidos por tropas do exército, com auxílio material paulista e tropas irregulares do político castilhista Pinheiro Machado; a maioria dos revoltosos federalistas refugia-se no Uruguai (fim da 1ª fase da Revolução Federalista);

agosto – nova invasão das tropas maragatas;

abril – Fundação do PRF (Partido Republicano Federal) sob a orientação da bancada federal de S.Paulo; respaldava Floriano mas visava a eleição do 1º presidente civil;

6 de setembro – Custódio de Mello, que fora leal ao governo, vê frustradas suas pretensões presidenciais (os paulistas haviam conseguido impor P.Moraes como candidato a Floriano) e lidera a Revolta da Armada; havia uma rivalidade entre Exército e Marinha (diferente origem de classe) à qual vieram somar-se os interesses dos políticos anti-florianistas; a alegação de C.Mello era de inconstitucionalidade do governo Floriano; os revoltosos começam a bombardear o Rio de Janeiro; não conseguem desembarcar em Niterói; a população vai ser mobilizada ao acreditar que aquilo fosse um ataque monarquista;

os rebeldes gaúchos invadem SC, unem-se aos revoltosos da Marinha e avançam em direção ao PR. No RS a luta vai continuar até 10 de agosto do ano seguinte (1894), quando o caudilho Gumercindo Saraiva vai ser assassinado e degolado; os maragatos farão novas investidas ainda no governo Prudente de Moraes; ao todo, a Revolta Federalista irá durar 31 meses, causando a morte de 10 mil soldados.

9 de setembro – Saldanha da Gama adere à revolta da Armada, atraindo o apoio declarado dos monarquistas (embora Custódio de Mello não o fosse); S.Gama assume na Guanabara enquanto C.Mello vai para o sul; os revoltosos haviam tomado a cidade de Desterro, em SC, onde instalaram um ‘governo provisório’

25 de setembro – Convenção do PRF escolhe Prudente de Moraes como candidato

1894:

janeiro – federalistas invadem o PR e tomam Curitiba; florianistas, apoiado pelos paulistas, contra-atacam retomando Curitiba e Desterro (passa a se chamar Florianópolis) e encurralando os rebeldes no RS;

1º de março – Eleições em todo o Brasil (exceto os estados do sul)

10 de março – chegam à Baía de Guanabara os navios de guerra encomendados por Floriano aos EEUU;

13 de março – Saldanha da Gama e seus comandados se refugiam em dois navios portugueses; Floriano derrotara a Revolta da Armada;

22 de junho – Congresso Nacional proclama os resultados: P.Moraes 290.883 votos (266 000 para o seu vice, Manoel Vitorino);

1895:

Os “maragatos” são vencidos, e Prudente estava decidido a anistiá-los;

Março – meses antes do armistício, alunos da Escola Militar sublevam-se contra a anistia aos federalistas;

1896:

outubro – um juiz de Joazeiro embarga compra de madeira feita por Conselheiro para a nova igreja do arraial; o governador, pressionado, envia 100 praças, que são cercados por mais de 1000 ‘jagunços’ conselheiristas; a população de Salvador pede o sangue do Conselheiro;

10 de novembro – afastamento do presidente P.Moraes por motivo de doença, assumindo o seu vice, o florianista Manoel Vitorino, que busca apoio nos militares dissidentes que vêem em Canudos uma ameaça monarquista;

dezembro – envio da 2ª expedição a Canudos com 543 praças, 14 oficiais, 3 médicos, 2 canhões Krupp e duas metralhadoras (melhor equipamento da época); derrota fragorosa; retirada de feridos e famintos por 200 km de sertão; o arraial aumenta enormemente em apenas 3 semanas; cresce o ânimo militarista contra Canudos e o jacobinismo exige o fim de Canudos em nome da memória de Floriano; M.César, que batera os federalistas no RS é o herdeiro do sentimento militarista;

1897:

3 fevereiro – embarque para a BA da 3ª expedição contra Canudos em clima de grande entusiasmo c/1300 combatentes, 15 milhões de cartuchos e 70 tiros de artilharia; chegam a Canudos em março, sedentos e famintos (levaram bomba artesiana) e tentam atacar direto, à baioneta; derrota causa comoção nacional e aquilo parece a ponta do iceberg de uma conspiração restauradora (monarquista); no Rio de Janeiro, a massa excitada pela propaganda nacionalista e republicana quebra redações e tipografias de 3 jornais tidos como monarquistas; atacam e matam monarquistas criando situação anárquica; governadores de Estado, congressistas, todos pedem vingança;

4 de março – o presidente Prudente de Moraes reassume o cargo

junho de 1897 – formada a 4ª expedição contra Canudos, para redimir a ‘honra nacional’; formada por 2 colunas com mais de 5 mil homens e preparada minuciosamente; no decorrer da luta, seus contingentes receberão reforços de 4 mil homens;

5 de outubro, ao entardecer – caem os 4 últimos combatentes conselheiristas: um velho, dois homens feitos e uma criança “à frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados” (E.Cunha.Os Sertões)

novembro – quando o presidente passava em revista as tropas vencedoras em Canudos, sofre um atentado por parte de Marcelino Bispo, suboficial do exército; o presidente escapa, mas morre o Ministro da Guerra, o Marechal Bittencourt; o atentado não é assumido por nenhuma corrente política, mas dá força moral e política para que o governo consiga o estado de sítio e passe a perseguir seus adversários, iniciando o domínio paulista;

17 de dezembro – decreto anti-protecionista, baixando as tarifas alfandegárias (que haviam sido aumentadas em 1895 por pressão dos “jacobinos”) para agradar os capitalistas estrangeiros, no momento em que o café valia, no mercado internacional, 8 vezes menos do que há nove anos atrás; prepara-se, com isto, o caminho para novos empréstimos que serão conseguidos por Campos Sales em suas negociações de abril-maio de 1898; prejuízo para as fábricas de algodão;

1898:

abril – logo após a sua eleição, Campos Sales (republicano de 1ª hora, de família abastada do interior paulista e ex-governador de SP), embarca para a Europa para negociar junto aos banqueiros ingleses (Rotschild sobretudo) uma moratória de 3 anos e um empréstimo de 10 milhões de libras esterlinas para formar um “funding-loan” a ser amortizado em dez anos; oferece como garantia toda a renda da alfândega do RJ, as demais alfândegas se fosse preciso, as receitas da E.F.Central do Brasil e do serviço de abastecimento de água do RJ; o acordo incluia a queima de papel-moeda em quantidade equivalente à das emissões do “funding” para acabar com a inflação; o ministro da Fazenda, J.Murtinho, comprime violentamente as despesas, aumenta os impostos (“Imposto do Selo”), abandona as obras públicas, desestimula as indústrias e congela os salários.

A política econômica tem o resultado esperado: entre 1898 e 1902 a moeda brasileira valoriza 50%; pagam-se os empréstimos externos do governo anterior, acumula-se saldo em ouro e cresce a receita pública. As consequências: empobrecimento geral, carestia, desemprego e estagnação econômica; ruína dos senhores de engenho nordestinos, fim das esperanças de industrialização, contribuintes exauridos, greves operárias . Banqueiros europeus voltavam a ter confiança no Brasil. Campos Sales monta a “política dos governadores”, que dá sustentação política ao governo central em troca do apoio econômico e da institucionalização do poder das oligarquias estaduais.