BODAS E TRIBUNAL (CENA DO ESCUDO DE AQUILES II)
Natureza e data do texto:
Após a morte do seu amigo Pátroclo, a quem ele havia emprestado suas armas, Aquiles consegue – graças a um pedido de sua mãe, Tétis – que Hefesto lhe fabrique uma nova panóplia. O novo escudo forjado pelo deus é todo ornado por cenas que praticamente nos dão uma visão de conjunto dos aspectos mais importantes do mundo homérico:
“Duas cidades belíssimas de homens de curta existência grava, também. Numa delas celebram-se bodas alegres. Saem do tálamo os noivos, seguidos por seus convidados, pela cidade, à luz clara de archotes; os hinos ressoam. Ao som das flautas e das cítaras moços dançavam, formando roda, em cadência agradável. Nas casas, de pé, junto às portas viam-se muitas mulheres que o belo cortejo admiravam.
Cheio se achava o mercado, que dois cidadãos contendiam sobre quantia a ser paga por causa de um crime de morte: um declarava ante o povo que tudo saldara a contento; o outro negava que houvesse, até então, recebido a importância. Ambos um juiz exigiam, que fim à contenda pusesse. O povo, à volta, tomava partido, gritando e aplaudindo. A multidão os arautos acalmam; no centro, os mais velhos em recinto sagrado, sentados em pedras polidas, nas mãos os cetros mantêm dos arautos de voz sonorosa. Fala cada um por seu turno, de pé, e o seu juízo enuncia. Quem decidisse com mais equidade, dois áureos talentos receberia, que ali já se achavam, no meio de todos.”
FONTE: Ilíada, XVIII, 490-508.