UM PRADO, UM RECINTO DE DANÇA, AEDO, SALTADORES
Natureza e data do texto:
Após a morte do seu amigo Pátroclo, a quem ele havia emprestado suas armas, Aquiles consegue – graças a um pedido de sua mãe, Tétis – que Hefesto lhe fabrique uma nova panóplia. O novo escudo forjado pelo deus é todo ornado por cenas que praticamente nos dão uma visão de conjunto dos aspectos mais importantes do mundo homérico:
“Um grande prado, também, representa o ferreiro possante, num vale ameno, onde muitas ovelhas luzentes se viam, bem como apriscos e estábulos, e choças de boas cobertas.
Plasma um recinto de dança, ainda, o fabro de membros robustos, mui semelhante ao que Dédado em Cnosso de vastas campinas fez em louvor de Ariadne formosa, de tranças venustas. Nesse recinto mancebos e virgens de dote copioso alegremente dançavam, seguras as mãos pelos punhos. Elas traziam vestidos de linho; os rapazes com túnicas muito bem tecidas folgavam, em óleo brilhante embebidas. Belas grinaldas, as fontes das virgens enfeitam; os moços de ouro as espadas ostentam, pendentes de bálteos de prata. Ora eles todos a volta giravam, com pés agilíssimos, tal como a roda do oleiro, quando este sentado, a experimenta, dando-lhe impulso com as mãos para ver se a move a contento, ora, correndo, formavam fileiras e a par se meneavam. Muitas pessoas, à volta, o bailado admirável contemplam, alegremente. Cantava entre todos o aedo divino, ao som da cítara, ao tempo em que dois saltadores, a um tempo, cabriolavam, seguindo o compasso no meio da turba. Plasma, por fim, na orla extrema do escudo de bela feitura a poderosa corrente do oceano, que a Terra circunda.”
Ilíada, XVIII, 587-608.