MÚSICAS PARA A SALA DE AULA # 006
O CABO LAURINDO E O FIM DO ESTADO NOVO
Wilson Batista, que fora obrigado a deixar de louvar (ao menos abertamente) a malandragem, vinga-se em grande estilo do regime autoritário com a arma que melhor dominava: o samba. Ele o faz através de uma personagem inventada, o Laurindo. Ele já aparecera em “Triste Cuíca” de Noel Rosa e em “Laurindo” de Herivelto Martins entre outras; Wilson Batista prosseguiu com o tema, fazendo uma espécie de novela sambística em três capítulos sobre o fim do Estado Novo:
I. A participação dos pracinhas brasileiros na guerra, que terá um enorme impacto político, é encarnada em Laurindo, que vai para o front…
LÁ VEM MANGUEIRA (carnaval 1944)
Lá vem Mangueira/ Outra vez descendo o morro com harmonia/ Lá vem Mangueira/ Sem Laurindo na frente da bateria/ Perguntei: Conceição, o que aconteceu? / Laurindo foi pro front, este ano não desceu/ Mandei perguntar sem ele aqui/ Se a Escola de Samba podia sair/ Ele respondeu: pode ensaiar/ Porque o povo precisa sambar/
II. Voltando vitorioso do front, Laurindo se afima amigo da verdade e defensor da igualdade, anunciando transformação no “morro” (i.e. no regime político), que conta com apoio popular, consubstanciado no apoio de outras favelas além de Mangueira:
CABO LAURINDO (1945)
Laurindo voltou coberto de glória/ Trazendo garboso no peito a Cruz da Vitória/ Oi, Salgueiro, Mangueira, Estácio, Matriz estão agindo/ Para homenagear o Cabo Laurindo/ As duas divisas que ele ganhou mereceu/ Conheço os princípios que Laurindo sempre defendeu/ Amigo da verdade, defensor da igualdade/ Dizem que lá no morro vai haver transformação/ Camarada Laurindo, estamos à sua disposição
III. Laurindo já discursa vitorioso em um comício, marcando o retorno das liberdades políticas e lembrando os que tombaram na guerra, os heróis verdadeiros e que de certa maneira ajudaram a derrubar o regime:
COMÍCIO EM MANGUEIRA (carnaval de 1946)
Houve um comício em Mangueira/ O Cabo Laurindo falou/ Toda a Escola de Samba aplaudiu, é/ Toda a Escola de Samba chorou/ – Eu não sou herói – / Era comovente a sua voz/ – Heróis são aqueles/ Que tombaram por nós/ Houve missa campal, bandeira a meio-pau/ Toda a Escola de samba rezou/ Laurindo então lembrou os nomes/ Dos sambistas que tombaram/ Mangueira tomou parte na vitória/ Mangueira mais uma vez na história !