/MÚSICAS PARA A SALA DE AULA # 007 – JK: ANOS DOURADOS MA NON TROPPO

MÚSICAS PARA A SALA DE AULA # 007 – JK: ANOS DOURADOS MA NON TROPPO

MÚSICAS PARA A SALA DE AULA # 007

JK: ANOS DOURADOS MA NON TROPPO

Muitas vezes o governo de Juscelino Kubitschek é idealizado como uma época de um desenvolvimento risonho e de muita esperança, simbolizada no sorriso e na simpatia do presidente. É fato que de 1956 (ano da posse) até 1960, a economia brasileira cresceu 7% ao ano, gerando muitos empregos e estimulando a vinda da população rural para as cidades, onde mesmo péssimas condições de vida eram encaradas como uma melhora em relação à vida no campo. A ideia dos 50 anos em 5, enfim, a euforia desenvolvimentista, gerou um ambiente otimista, cujo maior garoto propaganda era o próprio JK. Raposa do PSD mineiro, JK era bom negociador político, evitando confrontações.

Na verdade, o governo JK desenvolveu alguns setores da nossa economia (sobretudo siderurgia, energia elétrica, petróleo e a indústria automobilística) mas a um custo bastante alto. Em primeiro lugar, nossa dívida externa dobrou. Nos tornamos cada vez mais dependentes do capital estrangeiro, que foi beneficiado com facilitação do envio de lucros ao exterior. O modelo econômico era concentrador de renda, aumentando uma desigualdade que já era profunda. A inflação cresceu, a balança de pagamentos se desequilibrou e houve intervenção do FMI. Outro aspecto pouco conhecido é a montagem de uma tecnocracia (os GE grupos executivos) que geria setores estratégicos, retirando na prática poderes que deveriam ser do Congresso, em uma antecipação do que ocorreria durante a Ditadura Militar.

Além disso, a construção de Brasília, símbolo maior do desenvolvimentismo, dispendeu uma enorme soma de recursos e sem dúvida foi um bom negócio para as empreiteiras e para a prática de corrupção, como assinala Juca Chaves na música A: “Caixinha Obrigado”. Afirma o historiador Pedro Campos (UFRRJ), em sua tese “A ditadura das empreiteiras” (depois transformada no livro “Estranhas catedrais”) que Juscelino, quando governador de Minas Gerais, favoreceu empreiteiras locais que depois foram bastante beneficiadas quando da construção de Brasília, além de receberem também encomendas de estradas e hidrelétricas. Além disso, teria sido a partir das obras da nova capital que as empreiteiras de todo o Brasil teriam se organizado politicamente, preparando o papel de destaque que teriam durante a ditadura militar.

Além de “Caixinha, obrigado”, na música seguinte, “Presidente Bossa Nova”, Juca Chaves aponta a habilidade de JK para fazer seu marketing pessoal, gerando uma imagem de dinamismo e progresso.

A – CAIXINHA, OBRIGADO (1960)
Juca Chaves

A mediocridade é um fato consumado/ na sociedade onde o ar é depravado/ marido rico, burguesão despreocupado/ que foi casado, com mulher burra, mas bela/ o filho dela, é político ou tarado/ caixinha, obrigado/ a situação do Brasil vai muito mal/ qualquer ladrão é patente nacional/ o policial quase sempre é uma ilusão/ e a condução é artigo racionado/ porém ladrão isto tem pra todo lado/ caixinha, obrigado/ o rockanroll nesta terra é uma doença/ e o futebol é o ganha-pão da Imprensa/ vença ou não vença, o Brasil é o maioral/ e até da bola nós já temos general/ que hoje é nome de estádio municipal/ caixinha, nacional/ a Medicina está desacreditada/ penicilina já é coisa superada/ tem curandeiro nesta terra pra chuchu/ Rio de Janeiro está pior do que Tambaú/ e de outro lado, onde está o delegado/ caixinha, obrigado/ dramalhão, reunião de deputado/ é palavrão que só sai pra todo lado/ se um deputado abre a boca é um atentado/ e a mãe de alguém é quem sofre toda a vez/ no fim do mês, cento e vinte de ordenado/ caixinha, obrigado…

B – PRESIDENTE BOSSA-NOVA [JK] (1960)
Juca Chaves

Bossa Nova mesmo é ser presidente, desta terra descoberta por Cabral/ para tanto basta ser, simpático, risonho, original/ depois, desfrutar da maravilha, de ser o presidente do Brasil/ voar de Belacap pra Brasília, ver a alvorada e voar de volta ao Rio/ voar, voar, voar, voar, voar pra bem distante até Versalhes onde duas mineirinhas, valsinhas dançam como debutante, interessante/ mandar, parente à jato pro dentista/ almoçar, com tenista campeão/ também poder ser um bom artista, exclusivista, tomando com Dilermando umas aulinhas de violão/ isto é viver como se aprova/ é ser um presidente bossa-nova/ bossa-nova, muito nova, nova mesmo, ultra-nova.