/OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 28: O TEMPO

OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 28: O TEMPO

OS SETE SEGREDOS DE FLORA

Capítulo 28: O TEMPO

O tempo sempre passa. Por vezes tece nossos sonhos. Ou é correnteza que arrasta nossas vidas. O tempo foi passando para Pedro. Dois meses depois do desaparecimento de Flora, ele era um novo homem. Estava mais magro, tentando compensar com a forma física a aflição permanente em que vivia e viveria enquanto não visse Flora novamente. Não tinha dificuldade em entender o poema da pedra no meio do caminho, Flora ocupava seu pensamento o dia inteiro. Mesmo entendendo cada vez mais as razões dela, não podia deixar de pensar na crueldade daquele processo. O que estava acontecendo não o impedia de continuar acreditando na felicidade. Mas agora sabia que tudo poderia mudar em um segundo, essa era a regra da vida.

Voltou-se para outros amores. Agora ele e Bola não perdiam um jogo do Botafogo. Enfrentaram partidas em pequenos estádios de subúrbio e suas arquibancadas em ruínas. Viajaram de moto para cidades do interior do estado e, obviamente, foram muitas vezes ao Niltão. Para variar, o time ia mal das pernas, mas por isso mesmo o sacrifício dos dois valia a pena, não tinha um cunho utilitário e vencedor. O mais puro amor é o que não espera retribuição. Entregou-se à redação do romance sobre Olabisi. Estava numa parte difícil de escrever, em que ela é raptada por traficantes de escravos e aprisionada em um acampamento onde espera para ser levada para o outro lado do oceano. Como descrever um sofrimento desse tipo, de alguém que tem tudo arrancado, terra, família, costumes, liberdade… Ao menos não era difícil para ele imaginar uma dor insuportável e o sentimento de perda. O laboratório do escritor é sua própria alma. Inesperadamente, para alegria do Bola começou a fazer almoços elaborados no fim de semana, o prazer sensível de com as mãos examinar, descascar, cortar os alimentos. A transformação operada pelo calor. O realce dos sabores com temperos e pimentas. O ponto certo das misturas. Os acasos e descobertas. E por fim, mas não menos importante, a satisfação incontida do amigo do peito.

Caraca, Pedro, a Flora vai passar muito bem quando voltar, esse teu bobó de camarão está um absurdo.

Assim eu espero, Bola.