Estava tudo combinado com Bola. Pedro sairia da escola às cinco horas da tarde e correria para casa. Ali fariam um lanche e ficariam aguardando a mensagem de Flora, que sempre vinha à noite. Afinal, era dia onze. O mês de Pedro se dividia em três: o dia onze, o tempo após a mensagem, com alguns dias para digeri-la, dentro do possível, seguido do tempo de espera pela nova mensagem. Por um lado, sabia que aquelas poucas palavras que apareceriam no seu celular eram um caminho para reencontrar Flora. Ao mesmo tempo, a cada mensagem aprendia mais sobre uma Flora que desconhecia. Por conta disso, ansiava e temia o som do telefone avisando, nunca pensara que a voz de Billy Paul fosse ter um significado angustiante.

Bola e ele se puseram a debater, a tentar adivinhar qual seria o próximo segredo. As mensagens estavam aparecendo em ordem cronológica, contando a vida de Flora antes de Pedro e o que ela havia escondido dele. Para Pedro parecia óbvio que seria uma pista acerca dos seis meses em que desaparecera antes de retornar para casa. Bola apostava em outra hipótese: ela iria finalmente esclarecer o episódio do passeio a cavalo que terminara em estupro, diria quem foi o responsável por aquele ato covarde e desumano. Pedro discordava. Era a camada mais profunda do trauma, só viria à tona por último. Seja lá como for, depois do lanche passaram a ouvir um imaginário ponteiro dos segundos que parecia ir cada vez mais devagar.

Para relaxar, Bola lembrou da vez em que Flora tentara arranjar uma namorada para ele. Marcou uma saída dos quatro. Cristina também era arquiteta e por isso Flora pensara em fazer a apresentação. Durante o jantar em um restaurante japonês, incluindo a sobremesa, ele e Cristina não concordaram em nada, quase deixaram de comer para poder discordar um do outro. Além de tudo, reclamou Bola, ela era muito magra. Foi um fiasco tão notável que virou piada entre eles. Quando Bola reclamava de algo, os dois diziam ao mesmo tempo: olha que vamos chamar a Cristina, hein…

Foi naquele breve momento de distração que ouviram o aviso musical e a mensagem pipocando na tela como uma pedra pegando fogo:

Ana Tereza Mendes