/OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 32: PARAÍSO

OS SETE SEGREDOS DE FLORA – Capítulo 32: PARAÍSO

Pedro e Ana Tereza sentaram-se em um banco de madeira em frente ao mar. Havia brisa mas poucas ondas, era um sereno fim de tarde. À medida em que Pedro ia contando a história de Flora, percebeu que Ana Tereza ia se encolhendo como um animal que acabou de receber uma pancada. Os olhos, antes curiosos, assumiram uma expressão sombria. Quando ele terminou, ela ficou calada um tempo, olhando muito séria, tentando absorver aquilo tudo.

— Quer dizer que você não tem a menor ideia de onde ela está?

— Exatamente. Pelo que entendi poderá voltar depois de revelados os sete segredos. Mas não há garantia disso.

— E o segredo que tenho a revelar seria o sexto, é isso?

— Sim. Depois desse só faltará um. Como Flora está seguindo a ordem cronológica da vida dela, creio que agora vá haver uma revelação acerca dos seis meses em que desapareceu da casa dos pais.

— Espero que você esteja preparado para ouvir uma história inacreditável.

— A essa altura, Ana Tereza, estou preparado para tudo, desde que ao final eu tenha Flora de volta.

— Eu tinha dezesseis anos quando fugi de casa. Meu pai era alto oficial do exército, um homem rígido e autoritário. Quando minha irmã mais velha o questionou, recusando-se a obedecer às suas ordens e proibições, a reação dele foi inesperada. Conseguiu um atestado com um psiquiatra do Exército e a internou à força durante meses. Ela nunca foi a mesma. Vi que seria a próxima. Até então eu evitava confrontar meu pai, pois sabia que era uma tática suicida. Fui me preparando para escapar. Durante um ano guardei todo dinheiro que passava por minhas mãos. Tinha pouco, mas foi o suficiente para comprar uma passagem para o interior de São Paulo, para um lugar perto de Campos de Jordão.

— O que havia lá?

— Tive notícia de uma espécie de comunidade rural hippie, onde todos trabalhavam e viviam juntos em um clima de harmonia, respeitando a natureza e usando métodos naturais de plantio orgânico. Se chamava Amanhecer. Quando cheguei lá fui muito bem recebida, abraçada, beijada, festejada por todos como alguém que acaba de entrar no Paraíso. Durante algum tempo, era assim que eu me sentia, plena, feliz.