/PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR? Capítulo 04: TIÊ SANGUE

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR? Capítulo 04: TIÊ SANGUE

PEDRO E FLORA: UMA HISTÓRIA DE AMOR?

Capítulo 4: TIÊ SANGUE

Passou a noite abraçado ao aparelho. Virava de lado, como se houvesse onde colocar o corpo ou a alma. Era uma névoa de dor. Levantou, tentou ler, não conseguiu. Ele que adormecia feito uma pedra. Em aproximadamente trinta e sete segundos, dizia ela, rindo. Flora desistira de conversar na hora de dormir, o único jeito de mantê-lo acordado não era conversando. Era deixar os corpos falarem.

Mas quando a manhã se aproximava o cansaço o derrubou para dentro de um sonho. Era um dia nublado. O sol nascia preguiçoso. Estavam diante de um portão de metal. Um parque. Fechado àquela hora. Se entreolharam, cúmplices. Ele uniu as mãos para ajudá-la a saltar. Para ele, alto como era, foi fácil. De mãos dadas, seguiram por um caminho todo aberto na pedra. O mar à direita, as ondas quebravam com força, explodindo em nuvens de espuma branca. A mão dela, encaixada na dele, estava fria. O olhar distante de Flora não reparou no Tiê Sangue que veio colorir a árvore. O canto curto do passarinho era uma mensagem que ele não conseguiu decifrar. Olhou para ela. Naquela luz ficava ainda mais bonita. Mas havia algo de errado. Ela não se voltava para ele, seguia em frente, determinada. Pensou em puxar assunto mas sentiu que ela desejava o silêncio. Continuaram caminhando. Ao final havia uma grande rocha e depois dela uma curva para a direita que não se via onde acabava. Cutelo cortando o pescoço de um animal, ela desprendeu sua mão, passou correndo pela pedra e dobrou a curva. Depois de segundos de espanto, correu atrás de Flora. Tentou gritar o nome dela, mas da sua garganta só saiu o canto contido do Tiê Sangue. Após a pedra havia um abismo que despencava no mar azul. Ainda chegou a tempo de ver o corpo de Flora flutuando no ar …

Afogado que consegue vir à tona, despertou. Tremia. Ao invés de respirar, chorava. Arremessou o celular na parede. Gritou feito um homem pré-histórico. Um tigre de dente-de-sabre dilacerava sua pele. Eram cinco e meia da manhã. Seria um dia de calor abafado, úmido. Ia explodir. Precisava falar com alguém. Tomou o telefone fixo com mãos de vidro:

— Alô, Mauricio? Bola, preciso de ajuda…