HINO A ATON
Natureza e data do texto:
Hino ao deus Aton, provavelmente composto pelo próprio faraó Amenófis IV – que significa ‘Amon-está-satisfeito’ -, que acaba mudando seu nome para Akhenaton (‘Aquele-que-serve-Aton’) e também a capital do reino para um sítio 500 km ao norte da antiga capital (Tebas). Aton era o sol. O reinado do faraó que tentou, inutilmente, impor um monoteísmo à religião egípcia decorreu entre os anos de 1353-1335 a.C. Depois da sua morte, a religião egípcia tradicional, inclusive o culto a Amon, uma das divindades mais importantes do período anterior, será restaurada.
“Amanheces formoso no horizonte celeste,
tu, vivente Aton, princípio da vida!
Quando surgiste no horizonte do oriente
Inundaste toda a terra com tua beleza.
És belo, grande, resplandecente e sublime sobre toda a terra;
Teus raios invadem as terras até o limite de tudo o que fizeste:
Sendo Ré, alcanças o fim delas,
Subjuga-as para teu filho predileto.
Embora estejas longe, teus raios estão na terra;
Embora toques a face dos homens, ninguém conhece o teu destino.
Quando adormeces no horizonte ocidental,
A terra escurece como se estivesse morta.
Eles dormem num quarto, as cabeças cobertas,
Os olhares não se cruzam.
Todas as riquezas que se encontram ao seu redor poderiam ser roubadas.
E eles nem notariam.
Cada leão sai do seu covil;
Tudo que rasteja, pica.
A escuridão é uma mortalha e a terra repousa no silêncio,
Porque ele que os fez, descansa no horizonte.
Ao amanhecer, quando despontas no horizonte,
Quando fulguras como Aton-do-dia,
Expulsas a escuridão e ofereces teus raios.
As Duas Terras estão em festa todo o dia,
Acordadas e de pé
Porque tu as levantaste.
Lavando seus corpos, vestindo-as
Seus braços erguem-se em louvor à sua presença.
Todo mundo faz sua tarefa.
Todos os animais estão satisfeitos com suas pastagens;
Árvores e plantas florescem.
Os pássaros que voam de seus ninhos,
Têm as asas abertas em louvor ao seu Ka.
Todos os animais saltam sobre seus pés.
Tudo o que voa e brilha,
Vive quando surgiste para eles.
Os navios viajam para o norte e para o sul,
Pois todo o caminho se abre à tua presença.
O peixe no rio lança-se perante tua face;
Teus raios estão no meio do grande oceano verde.
Criador da semente nas mulheres,
Tu que transformas o fluido em homem
Que manténs o filho no ventre materno,
Que o acalmas com aquilo que cessa seu pranto,
Que o acaricias mesmo no útero,
Que sustentas com teu sopro tudo que ele fez!
Quando ele sai do ventre e passa a respirar
No dia em que nasce,
Tu lhe abres a boca completamente,
Supre suas necessidades
Quando o pintinho, no ovo, fala de dentro da casca,
Tu lhe dás respiração para mantê-lo.
Quando terminaste sua estrutura, dentro do ovo, para quebrá-lo,
Ele surge do ovo para falar, terminado o prazo;
Caminha com seus próprios pés, quando sai dali.
Como são múltiplas as coisas que fizeste!
Estão ocultas da face do homem.
Ó Deus único, nenhum outro se te iguala!
Tu próprio criaste o mundo de acordo com tua vontade,
Enquanto ainda estavas só:
Todos os homens, gado e animais selvagens
Tudo que fica na terra caminha sobre seus próprios pés,
É o que fica nas alturas, voando por suas próprias asas.
Nas terras da Síria e da Núbia e a terra do Egito,
Colocaste cada homem em seu lugar,
Supriste suas necessidades:
Cada um tem seu sustento e seu tempo de vida é calculado.
Estão separados por seus idiomas,
Assim como por suas naturezas;
Suas peles são distintas,
Porque distinguiste os povos estrangeiros.
Fizeste o Nilo abaixo do solo,
Trouxeste-o à luz, quando o desejaste,
Para alimentar o povo do Egito
Conforme o fizeste especialmente para ti,
O Senhor de todos, cansando-se com eles,
O Aton-do-dia, gloriosa Majestade.
Em todas as terras estrangeiras distantes, tu manténs a vida,
Já que colocaste um Nilo no céu,
Para que desça em benefício deles e erga ondas nas montanhas,
Como o grande oceano verde,
Para irrigar seus campos nas aldeias.
Quão efetivos são teus planos, Ó Senhor da eternidade!
O Nilo no céu, é destinado aos povos estrangeiros
E aos animais de todos os desertos, que caminham sobre seus próprios pés;
Enquanto que o verdadeiro Nilo surge do subterrâneo para o Egito.
Teus raios alimentam cada prado.
Quando surges, eles vivem, crescendo para ti.
Tu fazes as estações a fim de cultivar tudo o que fizeste,
O inverno para refrescá-los,
O calor para que te sintam a ti.
Fizeste o céu distante para ali te elevar,
E para abarcar tudo o que fizeste.
No tempo que estavas só,
Surgindo na tua forma Aton vivente,
Aparecendo, brilhando, recuando ou aproximando,
Criaste milhões de formas para tua presença.
Cidades, aldeias, campos, estrada e rio –
Cada olho te enxerga a sua frente,
Porque és Aton-do-dia sobre a terra…
Estás no meu coração,
E nenhum outro conhece a ti
Exceto teu filho, Nefer-Kheperu-Re Wa-En-Ré,
Porque o fizeste ciente de teus planos e de tua força.
O mundo tornou-se realidade através de tuas mãos,
De acordo com o que fizeste.
Quando surges, eles vivem,
Quando te pões, eles morrem.
Tu és o tempo de vida,
Pois só se vive através de ti.
Os olhos fixam a beleza até que te pões.
Todo o trabalho é abandonado quando te pões no ocidente.
Mas, quando despontas novamente,
Tudo é feito para florescer para o rei, …
Uma vez que fundaste a terra para teu filho
Que saiu do teu corpo,
O Rei do Alto e Baixo Egito, … Akh-en-Aton, …
e a grande mulher do rei … Nefertiti,
Em vida e juventude para todo o sempre.”
FONTE: PINSKY,Jaime. Cem textos de História Antiga. São Paulo: Global Editora, 1980. 2.ed. pp. 56-59.