/GRÉCIA – Guerra (cena do escudo de Aquiles III)

GRÉCIA – Guerra (cena do escudo de Aquiles III)

GUERRA (CENA DO ESCUDO DE AQUILES III)

Natureza e data do texto:

Após a morte do seu amigo Pátroclo, a quem ele havia emprestado suas armas, Aquiles consegue – graças a um pedido de sua mãe, Tétis – que Hefesto lhe fabrique uma nova panóplia. O novo escudo forjado pelo deus é todo ornado por cenas que praticamente nos dão uma visão de conjunto dos aspectos mais importantes do mundo homérico:

” À volta da outra cidade se vêem dois inimigos exércitos com reluzente armadura, indecisos nos planos propostos: ou devastá-la de todo ou fazer por igual a partilha das abundantes riquezas que dentro das casas se achavam. Os cidadãos não se rendem, contudo, e a emboscada preparam. E enquanto as caras esposas, as crianças e os velhos cansados, cheios de ardor se defendem de cima dos muros bem feitos, seguem os homens guiados por Ares e Palas Atena. Altos e belos, armados como convém aos eternos e facilmente distintos da turba de homens pequenos, de ouro ambos eram e de ouro, também, os luzentes vestidos. Logo que o ponto alcançara, que haviam adrede escolhido, perto de um rio vistoso, onde vinha beber todo o armento, sem se despirem das armas luzentes, se põem de emboscada. Duas vigias colocam dali a pequena distância, para avisá-los se ovelhas e reses tardonhas viessem. Dentro de pouco aparecem, trazidos por dois condutores, que ao som de gaitas se alegram, sem nada cuidarem da insídia. Os da emboscada acometem de súbito e, em pouco, se apossam dos tardos bois, das ovelhas vistosas dotadas de lúcido velo, tirando a existência aos incautos e imbeles pastores. Os sitiadores, que estavam reunidos em junta, ao ouvirem a gritaria do assalto aos rebanhos, depressa abalaram em seus velozes corcéis, alcançando na margem do rio aos da cidade, e travando com eles renhida batalha, onde aêneas lanças furiosas causaram recíprocos danos. Via-se a fera Discórdia, o Tumulto e a funesta e inamável Parca, que havia agarrado a um ferido, um guerreiro ainda ileso, e pelos pés arrastava um terceiro, que a vida perdera. Dos ombros pendem-lhe as vestes manchadas de sangue dos homens. Como se fossem mortais, comportavam-se na áspera luta e arrebatavam das mãos uns dos outros os corpos dos homens mortos. ”

FONTE: Ilíada, XVIII, 509-540.