/GRÉCIA – O demos (povo) e a participação política

GRÉCIA – O demos (povo) e a participação política

O DEMOS E A PARTICIPAÇÃO POLÍTICA

A) ODISSEUS CENSURA UM HOMEM DO POVO QUE OUSARA MANIFESTAR-SE NA ASSEMBLÉIA dos aquivos, reunidos em Tróia:

“Mas se encontrava, a gritar, um qualquer dentre os homens do povo,

o percutia com o cetro, increpando-o, desta arte, em voz alta:

‘Pára essa bulha, covarde, e presta atenção aos ditos dos outros,

que são melhores que tu, pois te mostras imbele e sem préstimos.

Não vales nada na guerra, ou sequer, nas reuniões dos argivos!'”

(…)

“Néscio Tersites, conquanto orador de palavra fluente,

cala essa boca, não queiras, sozinho, com os reis abarbar-te.”

Ilíada, II, 197-202 e 246-247.

B) TELÊMACO CONVOCA A ASSEMBLÉIA DE ÍTACA:

“Manda aos arautos, de voz penetrante, que à praça convoquem, para a assembléia, os aquivos de soltos cabelos nos ombros. Gritam, sem demora, o pregão (…) Abre a assembléia arengando aos presentes, Egípcio preclaro que, pela idade encurvado, possui o saber da experiência. (….)

‘Ora, itacences, prestai atenção no que tenho que dizer-vos. Não mais tivemos sessão nem ninguém convocou a assembléia dês que o divo Odisseu embarcou no navio bojudo. Quem, desta vez, nos convoca? E que causa premente o compele, quer seja um moço dos nossos, quer mesmo um dos homens mais velhos? Nova terá recebido da vinda do exército inimigo, do que pretende falar-nos por ser o primeiro que soube? Ou sobre a causa do povo tenciona, talvez, dizer algo? Nobre parece-me ser, e de méritos grandes. Pudesse Zeus outorgar-lhe a obtenção do desígnio que volve na mente. (…)

Levanta-se logo o venerável Mentor, (…) Cheio de bons pensamentos lhes diz, (…) os pretendentes soberbos não vou censurar, (…) mas contra o resto do povo não posso deixar de indignar-me, com serdes muitos, ficais em silêncio, sentados, sem verdes que aos pretendentes, por poucos, podíeis impor vosso freio.

Disse-lhe o filho de Evénor, Leócrito, então em resposta: ‘Louco e insensato Mentor, que pretendes com esse discurso? Queres que a gente dessa ilha nos venha refrear? Perigoso lhes fora, embora em mor número, vir disputar-nos as festas. (…)

Eia! Disperse-se o povo e procure cada um o seu trabalho.”

Odisséia, II, 6-252.