“11. Sala de recepção
Gigantes do samba, Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres e Cartola eram muito amigos, apesar de cada um ser de uma escola de samba. Certa vez viajaram a São Paulo e voltaram em pleno carnaval, a tempo de desfilarem em suas escolas. Chegaram na Praça Onze quando estava vindo a escola de Heitor dos Prazeres, a Paz e Amor. Heitor entrou e levou os dois amigos, que desfilaram sem problemas. Quando passou a Mangueira os três também puderam brincar juntos.
Mas quando chegou a Portela não deixaram Paulo entrar sem a roupa apropriada, muito menos trazer seus dois amigos. Paulo da Portela chorou feito criança. Ele nunca mais desfilaria na Portela, escola que ajudou a fundar e engrandecer. Para consolar o amigo, Cartola trouxe Paulo da Portela para a Mangueira, onde ele ficou morando um tempo e foi muito bem tratado por todos.
Mas Cartola não deixou de louvar a superioridade da Mangueira e de mencionar indiretamente este episódio em um dos seus mais lindos sambas, “Sala de recepção”:
Habitada por gente simples e tão pobre
Que só tem o sol que a todos cobre
Como podes Mangueira cantar
Pois então saiba que não desejamos mais nada
À noite, a lua, prateada, silenciosa,
Ouve as nossas canções
Tem lá alto o Cruzeiro
Onde fazemos nossas orações
E temos orgulho de ser os primeiros campeões
Eu digo e afirmo que a felicidade aqui mora
E as outras escolas até choram
Invejando a nossa posição
Minha Mangueira,
tu és a sala de recepção
Aqui se abraça um inimigo
Como se fosse um irmão”
Marcos Alvito. Histórias do samba: de João da Baiana a Zeca Pagodinho. São Paulo: Matrix, 2013.