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HISTÓRIAS DO SAMBA – 62. Robin Hood do samba

62.  Robin Hood do samba

Muita gente, mesmo os que leram Macunaíma, não entende a expressão “herói sem nenhum caráter”, confundindo-a com “falta de caráter”, uma espécie de canalhice. Nada disso. “ Sem nenhum caráter” refere-se à mestiçagem étnica e cultural que resultou no povo brasileiro, cuja característica central é a maleabilidade, a plasticidade, em que os contrários convivem pacífica e alegremente. Por isso Zeca encarna Macunaíma. Por um lado ele parece ilustrar uma falta de responsabilidade, uma despreocupação perante os compromissos “sérios” que muitos insistem em caracterizar como traços tipicamente brasileiros. Verdade ma non troppo.

Ele sempre foi o cara mais correto do mundo com seus parceiros musicais. Quando gravava sambas antigos, pedia a Seu Monarco que desse uma conferida nas letras e que descobrisse quem eram de fato os autores, para reconhecer a autoria e pagar os direitos impecavelmente. Quando o dinheiro começou a jorrar ele não se esqueceu do pessoal de Irajá e começou a pagar de tudo: cerveja, roupa, tijolo, cimento e o que mais lhe pedissem.

Mas a sua principal “ação social”, digamos assim, ainda é gravar um CD. Emplacar uma música num CD de Zeca Pagodinho permite a alguns compositores reformar e até mesmo comprar uma casa. Aqui Zeca toma todo o cuidado: por um lado garante sempre uma faixa para seus parceiros mais constantes, como Monarco e Ratinho, Wilson Moreira e Nei Lopes e a Velha Guarda da Portela.

Por outro, não grava mais de uma música de um compositor por disco, para não concentrar a renda, digamos assim. Por essas e outras, o sambista Mauro Diniz, filho de Monarco, não hesita:

– Zeca é o nosso Robin Hood. Podia muito bem deitar em berço esplêndido, mas não se esquece dos amigos.