/HISTÓRIAS DO SAMBA – 55. Homero pagodeiro

HISTÓRIAS DO SAMBA – 55. Homero pagodeiro

  1. Homero pagodeiro

 

Se existissem rodas de partido alto na Grécia antiga, Homero não faria feio. Verdade. É que a poesia homérica, tanto a Ilíada quanto a Odisséia, eram longos poemas compostos oralmente, sem auxílio da escrita. O aedo, como eram chamados os sambistas naquela época, compunha, ou se quiserem versava, na hora, diante da platéia, com acompanhamento musical.

No partido alto há um refrão, que tem uma dupla função. Primeiramente ele sugere um tema para os versadores. Podemos citar Batuque na Cozinha de João da Baiana:

 

Batuque na cozinha

Sinhá não quer

Por causa do batuque

Eu queimei meu pé

 

Aqui o tema sugerido é a repressão ao samba e João da Baiana vai fazer uma composição sobre isso, em que um malandro tenta escapar da prisão conversando com um delegado. Contaremos a história dessa música mais adiante. Por ora, o importante é perceber que o refrão é um mote para o improviso.

A segunda e não menos importante função do refrão é dar um tempo para que os versadores possam improvisar, possam pensar em que verso lançar na roda, eventualmente respondendo a um desafio de outro versador.

Homero fazia a mesma coisa: boa parte da Ilíada e da Odisséia tem versos que se repetem, o que dava ao aedo um tempo precioso para elaborar seus versos. Afinal a palavra poesia deriva do do grego poiéo, que significa “fazer”. O versador, o poeta, são aqueles que fazem. Pois é, Homero, quem diria, também era pagodeiro.