/HISTÓRIAS DO SAMBA – 52. Empate histórico

HISTÓRIAS DO SAMBA – 52. Empate histórico

  1. Empate histórico

Zeca Pagodinho construiu sua fama no mundo do samba primeiramente como improvisador, como versador nas rodas de partido-alto. Para o bamba Mauro Diniz, filho de Monarco e fera no partido-alto, Zeca “É o melhor improvisador do mundo. Quando você raciocina A, ele já pensou no alfabeto inteiro”. Zeca costumava chegar nos pagodes com seu cavaquinho em uma sacola de papel de supermercado, daquelas antigas, de papel. Tocava um pouco, mas era na hora do improviso que ele se soltava.

Logo fez fama no principal pagode da década de 1980, o que ocorria às quartas-feiras no Cacique de Ramos, em Olaria. E olha que ali só tinha fera. Mas Zeca percorria a cidade toda em busca de um bom samba e de uma boa roda de partido-alto. Ia no “Pagofone” em Cachambi, que ocorria em frente a um orelhão e no “Cu da mãe” em Quintino. Além dos subúrbios, rodava por biroscas, muquifos, favelas. Sua tia Náia criticava:

– Parece cabrito, só quer andar em morro.

Certa vez foi parar em Marechal Hermes, na casa de Osmar do Cavaco, que tocou com Candeia e era integrante da Velha Guarda da Portela. Nesse dia estava presente Mestre Aniceto, reconhecido por todos no mundo do samba como o maior partideiro de todos os tempos. Zeca teve a honra de versar com Aniceto nessa roda.

Com a elegância natural dos verdadeiros sambistas, elogiou Seu Aniceto: “Não tinha esse negócio de estar velhinho não. Ele era bom demais.” A “briga” foi boa, ninguém desistiu, Zeca e Aniceto versaram noite adentro. Os presentes tiveram que decretar o empate naquele que pode ter sido um dos maiores confrontos de partideiros da história do samba.