/HISTÓRIAS DO SAMBA – 56. Heráclito de Oswaldo Cruz

HISTÓRIAS DO SAMBA – 56. Heráclito de Oswaldo Cruz

  1. Heráclito de Oswaldo Cruz

 

Há quem se choque com essa associação entre samba e Grécia antiga. É o pessoal que quer acomodar a vida em caixinhas, cada uma com sua etiqueta. Heráclito de Éfeso, por exemplo, pode baixar em alguém da Velha Guarda da Portela. Se o filósofo grego afirmava o movimento e a impermanência com aquela história de que não podemos nos banhar duas vezes nas águas de um rio, ele acabou encontrando seguidores em Oswaldo Cruz.

Afirmo e provo, vejam só a dialética presente no lindo samba que Alvaiade compôs em 1968 e que foi gravado somente muitos anos mais tarde:

 

O dia se renova todo dia
Eu envelheço cada dia e cada mês
O mundo passa por mim todos os dias
Enquanto eu passo pelo mundo uma vez


A natureza é perfeita
Não há quem possa duvidar
A noite é o dia que dorme
O dia é a noite ao despertar 

 

Não estou dizendo que Alvaiade leu Heráclito, embora isso seja perfeitamente possível. Estou dizendo que Alvaiade entendeu Heráclito, o que é muito mais importante. Os gênios dialogam através do tempo e do espaço, não há distância entre a Grécia antiga e Oswaldo Cruz.