/HISTÓRIAS DO SAMBA – 71. Quarta-feira imortal

HISTÓRIAS DO SAMBA – 71. Quarta-feira imortal

  1. Quarta-feira imortal

Para todos os mortais, a Quarta-feira de Cinzas marca o fim do Carnaval, o triste momento de voltar ao trabalho e às preocupações cotidianas. Mas não era assim na Portela de antigamente. Seu João Calça-Curta tinha esse nome por ter sido o pioneiro da bermuda em Oswaldo Cruz. Era conhecido por sua simpatia e pelo espírito de liderança. E também por organizar uma festa na quarta-feira de cinzas que trazia gente de toda a parte, começava cedo e só terminava quando a turma quisesse.

Ali o carnaval era passado a limpo, comentado detalhe a detalhe. Enquanto apreciavam uma peixada e bebiam cerveja preta e uma purinha pra rebater, os convidados quase sempre descobriam que escola ganharia o carnaval daquele ano. Isso porque muitos jornalistas e jurados apareciam na festa. Como só havia a fina-flor do samba, rolava solto o partido-alto, que não é pra quem quer e sim pra quem pode.

Nesse dia não se dançava samba de qualquer maneira, nada do rebolado espalhafatoso feito pra telespectador ver. Ao som do samba as cabrochas caprichavam no miudinho minimalista e sensual. Parece até lenda.