“12. A arte de Mestre Escovão
Uma história do samba de roda da Bahia. Quando conheci Mestre Escovão na Casa do Samba em Santo Amaro da Purificação, fiquei impressionado. É um negro colossal, deve ter dois metros de altura, cada braço que parece uma tora. O cavaquinho tocado com habilidade por aquelas mãos enormes parecia um brinquedinho de criança. A voz afinada cantava: “Samba de roda nasceu no canaviá”. Mais impressionante do que o porte de rei africano, só o sorriso franco, a simpatia e a humildade.
Olhando bem pra mim e falando numa voz tranquila, com aquele jeito musical dos baianos do Recôncavo, Mestre Escovão me explicou sua filosofia de vida.
– Olhe, Marcos, eu não recuso serviço: se me chamam eu vou com alegria cortar cana, bater uma laje, carregar tijolo, seja lá o que for. Mas eu nasci para a música, o que eu sou mesmo é artista.”
Marcos Alvito. Histórias do samba: de João da Baiana a Zeca Pagodinho. São Paulo: Matrix, 2013.