/Histórias do samba – 15. Não existe malandro pra mulher

Histórias do samba – 15. Não existe malandro pra mulher

15. Não existe malandro pra mulher

Wilson Batista era malandro assumido e orgulhoso da sua condição. Mas como alerta o samba, “Não existe malandro pra mulher”. Wilson ainda vivia com a mãe da sua filha quando conhece Marina Batista num baile de carnaval. Começam a namorar mesmo diante da forte oposição da família de Marina. Marina, apaixonada por Wilson, começou a pressioná-lo para casar, mal sabendo que ele ainda vivia com a primeira mulher. Wilson inventava mil desculpas e Marina aturando.

Eles costumavam se encontrar no ponto do bonde 56, na Central do Brasil. Chateada, um dia Marina resolve não encontrar Wilson e pega outro bonde, direto pra casa. Malandro também tem coração e Wilson sentiu o golpe, desabafando em um lindo samba em parceria com Haroldo Lobo, “E o 56 não veio”:

 

Eu ontem esperei às sete em ponto

Ainda dei uma hora de desconto

Os ponteiros do relógio

Pareciam me dizer

‘Vai embora, meu amigo

Ela não vai aparecer’

Será que ela não veio porque se zangou

Ou o bonde Alegria descarrilou?

Houve qualquer coisa de anormal

Ela foi sempre tão pontual

Fui ao chefe da Light

Perguntei ao inspetor

O que houve com o 56?

Esse bonde sempre trouxe o meu amor

 

A tática de Marina deu certo, porque Wilson a procurou dizendo para ela aprontar os papéis para se casarem logo. Para evitar qualquer problema com a ex-mulher, Wilson driblou a imprensa: quando a Revista do Rádio o procurou para uma reportagem sobre o casamento, Wilson deu o endereço de outra igreja. Aí sim a malandragem de Wilson funcionou.