/HISTÓRIAS DO SAMBA – 22. Dia da caça

HISTÓRIAS DO SAMBA – 22. Dia da caça

  1. Dia da caça

 

Há quem considere que a compra e venda de sambas era uma espécie de exploração dos sambistas pelos comprositores. Vagalume, um jornalista da época, acusava Francisco Alves de controlar o que seria ou não gravado na Casa Edison, obrigando desta forma os compositores a lhe venderem o samba. Havia exploração sim, porque os enforcados vendiam suas obras por necessidade, até para não morrer de fome.

Mas a realidade é sempre mais complexa. Certa vez Mário Reis interpelou Cartola reclamando que o samba que ele comprara por 300 mil réis só lhe rendera 250. Além disso, podemos incorrer no paternalismo de pensar que os pobres são sempre vítimas. Os compositores também sabiam aproveitar as brechas que se ofereciam.

 

Explicando melhor, se às vezes eram explorados, os compositores também sabiam explorar. Havia, por exemplo, um gerente de hotel na Rua Frei Caneca chamado César Brasil. César era louco pra ser compositor e era também metido a cantor. Moral da história: além de comprar qualquer samba que aparecesse, muitas vezes deixava os compositores dormirem de graça no seu hotel. Wilson Batista e Ataulfo Alves fizeram muito isso. A diária cobrada por César Brasil era pelo menos um punhado de versos para começar um samba.

Em um dia sem inspiração, teve compositor que lhe pagou com versos de Olavo Bilac. César só foi descobrir tempos depois. E era enrolado de toda a forma: um compositor chamado Zé Pretinho chegou a lhe vender um samba que já fora gravado, jurando que na segunda gravação do disco constaria o nome de César Brasil.

Outra vez Zé Pretinho deu-lhe um golpe de mestre. Depois de vender uma parceria num samba para César Brasil, um amigo de Zé Pretinho chega perto de César e diz para ele tomar cuidado. O motivo: Zé Pretinho teria outro parceiro naquela música, um cara da pesada que estava cumprindo pena na prisão e que quando saísse não iria gostar nada de não ver o nome dele no samba. O único jeito seria arranjar mais 100 mil réis para acalmar a fera que estava na cadeia. Preciso dizer que César Brasil caiu direitinho?