/HISTÓRIAS DO SAMBA – 23. O pandeiro virou sanfona

HISTÓRIAS DO SAMBA – 23. O pandeiro virou sanfona

  1. O pandeiro virou sanfona

 

Havia compositores que eram golpistas contumazes, capazes de vender o mesmo samba duas ou três vezes. Wilson Batista cansou de colocar e tirar parceiros das suas músicas: ele compunha com um amigo mas se aparecia um comprador ele tirava o nome do amigo sem pensar duas vezes. Quando era cobrado, Wilson estranhava: para ele samba era uma coisa tão natural, tão simples, bastava fazer outro e estamos conversados, aquilo não era motivo pra briga.

 

  1. Piedade, por exemplo era conhecido como o maior vendedor de músicas do Café Nice e olha que a competição era ferrenha. Vendia de toda a forma, seja toda a composição, quando seu nome sumia dos créditos ou somente a parceria. Certa vez, todavia, ele se superou. Sem tostão, como de praxe, ofereceu parceria a Ari Monteiro num samba chamado Meu Pandeiro:

 

“Quando eu morrer

Quero ficar com a mão de fora

Pra tocar o meu pandeiro

Ai, ai!

O meu pandeiro

Cravejado de marfim…”

 

Até aí, tudo bem, nada demais. Ari Monteiro ficou contente e encarregou Ciro Monteiro de gravar o samba.

 

Passados alguns dias, contudo, premido pela necessidade, digamos assim, J. Piedade muda o ritmo de samba para forró, faz o pandeiro virar sanfona e revende a música para Luís Gonzaga. O que J. Piedade não esperava era que seus dois “parceiros” aparecessem no estúdio da RCA Victor no mesmo dia para gravar suas músicas.

Daquela vez J. Piedade se deu mal. Ari Monteiro e Luís Gonzaga entraram em acordo. Cada um gravou sua música, cada qual no seu ritmo, mas J. Piedade foi excluído de ambas as parcerias.