/HISTÓRIAS DO SAMBA – 34. Século do progresso

HISTÓRIAS DO SAMBA – 34. Século do progresso

  1. Século do Progresso

Malandro de classe média, franzino e doente, Noel não sabia brandir a navalha nem jogar capoeira, mas seus sambas podiam ser armas cortantes. No carnaval de 1934 ele emplacou o sucesso O Orvalho vem caindo. Seu parceiro era o boxeador italiano Kid Pepe, conhecido malandro da pesada do mundo do samba. Kid Pepe começou a se valer da força bruta para obrigar Noel a tê-lo como parceiro. Noel tentava se safar mas um dia foi obrigado a aceitar Kid Pepe como parceiro na música Tenho Raiva de quem sabe.

Quando o samba é lançado, Noel descobre que seu nome sumira da música e que Zé Pretinho, outro barra pesada, é quem aparecia como parceiro de Kid Pepe. Noel, indignado, encontra Zé Pretinho e protesta, levando um bofetão.

 

A vingança de Noel veio, para variar, na forma de um samba que alertava quanto ao fim que os malandros podiam ter, na antológica Século do Progresso:

 

A noite estava estrelada
Quando a roda se formou
A lua veio atrasada
E o samba começou

 

Um tiro a pouca distância
No espaço forte ecoou
Mas ninguém deu importância
E o samba continuou

 

Entretanto ali bem perto
Morria de um tiro certo
Um valente muito sério
Professor dos desacatos
Que ensinava aos pacatos
O rumo do cemitério

 

Chegou alguém apressado
Naquele samba animado
Que cantando dizia assim:
No século do progresso
O revólver teve ingresso
Pra acabar com a valentia

 

Pelo sim, pelo não, Kid Pepe e Zé Pretinho não incomodaram mais.