- Fábrica de sambas
Além de Bolsa de Valores do samba, o Café Nice também funcionava como uma fábrica de composições. Muitos sambistas, talvez a maioria, não entendiam nada de teoria musical e eram incapazes de ler uma partitura. Isso não os impedia de fazerem lindas melodias. Conta-se até que o Maestro Villa-Lobos certa vez subiu o Morro de Mangueira e passou a noite ouvindo os sambas dali, inclusive de Cartola. Quando perguntaram a ele o que achara ele disse “Tá tudo errado, mas é tão lindo!”.
De qualquer forma, os sambas elaborados por estes compositores eram diamantes brutos as que ainda precisavam ser transcritos para uma pauta musical e lapidados em um arranjo que os valorizasse. Como o Nice abria cedo e fechava tarde, os compositores recorriam a ele dia e noite. Havia sempre um arranjador de prontidão para consertar a métrica, fazer um arranjo e preparar a música para ser devidamente registrada como tal.
As mesas do Nice eram uma oficina de sambas onde músicos da maior qualidade modificavam e melhoravam todo o tipo de composição que ali chegava. Era uma turma da pesada: Pixinguinha, Benedito Lacerda, Guerra Peixe, Raul de Barros, K-Ximbinho e outros. Eram pagos em gênero (parceria) ou em espécie (no vil metal mesmo).
Nem todo compositor, todavia, simplesmente entregava sua música nas mãos desses maravilhos músicos profissionais. Lamartine Babo gostava de imaginar a orquestração e apenas com a boca imitava o pistom, o trombone, o saxofone, o piano e até o violino.