“4. De meter medo
Catoni era compositor da Portela. Vindo do interior de Minas, era sujeito calmo e pacato, não bebia, não fumava, não era de briga. Mas era sambista e gostava muito de mulher. Um dia ele se arrumou com uma nega no Engenho Novo que “se virava nas ruas”. A nega era alta, grande, forte e muito braba. Dava-lhe boa vida mas vivia ameaçando: “Se você me deixar, meu preto, eu te abro de navalha”. Catoni ficava na sua quieto, mas começou a matutar que tinha que arranjar um jeito de fugir.
Um dia, conversando com um amigo que era policial civil, pergunta a ele o que fazer. O colega diz que só tem um jeito: fingir que estava levando Catoni preso. Catoni não gosta muito da ideia mas não havia outro jeito… No dia combinado o amigo bate à porta, a nega vem atender: “O que é que o senhor deseja?” diz ela com voz firme. O colega de Catoni mostra a carteira da Polícia Civil e pede pra falar com o Sr. Sebastião Vitorino (o nome real de Catoni).
A nega vira-se pra Catoni, que estava dentro do barraco, encolhido, fingindo que não sabia de nada, e sussurra “É poliça, foge, é poliça”. Catoni diz que estava tudo bem e diz pra enganar a nega: “Descobriram que eu matei o cara, agora ferrou”. A nega pede que ele fuja pelos fundos mas ele diz que não, se fez vai pagar. “Se entrega” ao amigo que o leva “preso”. O amigo lhe diz aflito: “Vambora, Catoni, que essa nega é de meter medo!”.”
Marcos Alvito. Histórias do samba: de João da Baiana a Zeca Pagodinho. São Paulo: Matrix, 2013.