/HISTÓRIAS DO SAMBA – 43. Antes que outros o façam

HISTÓRIAS DO SAMBA – 43. Antes que outros o façam

43. Antes que outros o façam

Sambista que se preza cultiva a ironia, inclusive a auto-ironia. Ari Barroso, além de maravilhoso compositor, era também radialista, apresentador de programa de calouros e locutor de futebol, onde escancarava sua paixão pelo Flamengo ao narrar o jogo de forma totalmente parcial:

 

– Precisamos marcar o adversário. Olhem o homem solto ali. Assim não é possível.

 

Quando saía o gol do mais querido, tocava sua gaita para delírio dos rubro-negros e horror das torcidas adversárias.

 

Era famoso em todo o Brasil e até no exterior por conta de Aquarela do Brasil. Era homenageado em toda a parte. Mas certa vez a imprensa carioca começou a reclamar que Ubá, a cidade natal de Ari, nunca prestara homenagem ao seu ilustre filho. Um vereador da cidade alegou que Ari jamais cantara Ubá em suas músicas, somente a Bahia. Ari não fez por menos e logo compôs uma Aquarela Mineira.

Os jornais cariocas voltaram à carga. O comércio de Ubá começou a apoiar a iniciativa. A Prefeitura da cidade mineira cedeu. Batizou uma praça com o nome do compositor e inaugurou um busto em meio a três dias de festa. Ari tinha ido a Ubá com um grupo de amigos. Às 4h da manhã Ari acorda um deles, Lúcio Rangel e o convoca:

 

– Lúcio, vamos à praça mijar no meu busto, para batizá-lo, antes que outros o façam.