/HISTÓRIAS DO SAMBA – 50. Cartola e Noel

HISTÓRIAS DO SAMBA – 50. Cartola e Noel

50. Cartola e Noel

 

Cartola e Noel chegaram a compor um samba juntos, o romântico Tenho um novo amor:

 

Tenho um novo amor (bis)
que vive pensando em mim
Não quer me ver triste nem zangado
Gosta que eu ande assim engraçado

 

Mas a sua grande parceria era mesmo na boêmia, naquilo que os sambistas de antigamente chamavam de orgia e que significava muito mais uma filosofia de vida da malandragem. O único problema, o eterno problema, era a falta de dinheiro, a prontidão como Noel gostava de dizer. Certa vez estavam os dois amigos no Largo do Maracanã sem nem mesmo um trocado para uma gelada. Quando aparece Francisco Alves, Noel e Cartola se animam a lhe pedir um vale em nome de futuras composições, cujos direitos irão pertencer ao cantor.

Chico Viola percebe o potencial da situação e resolve explorá-los ainda mais do que o habitual. Normalmente ele pagava 300 mil réis por música, mas naquela noite oferece apenas 50 mil réis para cada um, mas com a seguinte condição: os sambas teriam que ser feitos na mesma hora. Os dois, já sentindo na boca o gosto da cerveja, encaram o desafio.

Cartola, ajudado pelo amigo, faz Qual foi o mal que te fiz? Noel, por sua vez, escreve na hora a letra e a música de Estamos Esperando. Mas não foi uma rendição incondicional ao poder do vil metal, Noel faz uma letra de duplo sentido, aparentemente romântica, na verdade uma irônica crítica ao avarento e aproveitador Chico Viola:

 

Estamos esperando
Vem logo escutar
O samba que fizemos pra te dar
A rua adormeceu
E nós vamos cantar
Aquilo que é só teu

(…)

 

E este samba que fiz de parceria
Depois de feito não é dele nem é meu
Escuta o violão que está gemendo
Tuas cordas vão dizendo
Que este samba é só teu