/AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Lipts – 10. O fabuloso caso da Copinha de Bobobol

AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Lipts – 10. O fabuloso caso da Copinha de Bobobol

10. O fabuloso caso da Copinha de Bobobol

O ilustríssimo curso de Sexologia da UFFa, cuja pós-chateação tinha nota máxima na CAPE-se, ficava, lamentavam os sábios, em Kud Omundo. Esqueciam-se que eram os impostos escorchantes cobrados dos cidadãos e cidadãs daquele país eternamente em desenvolvimento que sustentavam seus salários, décimos-terceiros, férias e mil bolsinhas variadas. Sobretudo as mais disputadas a tapa, para Paris ou Londres, é claro, ou, no mínimo, pra Lisboa, que o vinho português também dava pro gasto.

Mas já estamos nos desviando do assunto, nosso caso hoje é a Copinha de Bobobol. Bobobol era o esporte nacional de Kud Omundo. Ganhava até de outras modalidades muito bem cotadas como assalto aos cofres públicos, prostituição infantil e falar mal dos outros. Os kudmundenses adoravam ver-se como os mestres do Bobobol, os artistas da pelota, os gênios da redonda e outras expressões do gênero. Embora o Bobobol fosse praticado, assistido e idolatrado em todo o planetinha azul, os homens, sobretudo os homens de Kud Omundo pensavam que o Bobobol era deles, os outros eram reles pernas de embaúba, sem jogo de cintura, sem malícia, sem arte.

Quando nascia um menino em Kud Omundo, mesmo antes dele frequentar este vale de lágrimas, já tinha camisa, time do coração e, é claro, uma dúzia de bolas de presente para ele chutar. Se bobeasse, a camisa já tinha até número: esse vai ser ponta-direita que nem o pai. Os meninos kudmundenses aprendiam a andar com a bola nos pés, ela se tornava uma extensão do seu corpo. Todos os grandes craques do Bobobol viviam agarrados à bola. Reza a lenda que o grande Zelé até mesmo dormia abraçado à pelota e que sua querida avozinha tinha que acordar no meio da noite para ir tirar a esférica dos braços do meninote.

Se o bebê não tivesse pênis, se nascesse desprovido de saquinho, se fosse uma menina, o caso era bem diferente. O quartinho era decorado de cor de rosa, era um mar de lacinhos e sapatinhos de crochê e bonequinhas a esperar a mocinha. Com o perdão do trocadilho, ninguém lhe dava bola alguma. Nem os seus irmãos a convidavam para jogar Bobobol com eles, que irmã minha é mulher delicada, fina. Sim, porque mulher que jogava Bobobol, sei não, deve calçar 53. Claro que muitas meninas, apesar de todo este ambiente receptivo, insistiam em jogar. Mas como ninguém havia lhes ensinado o jogo, como na hora das partidas de Bobobol estavam na cozinha ajudando a mãe a lavar a louça do almoço ou a lavar as camisas do time do bairro cheias de lama. As meninas entravam no jogo sem saber direito. Haviam aprendido a andar com uma bonequinha loura de plástico nas mãos, cabelos lisos, lisos, é claro. A bola virava obstáculo, se atrapalhavam, chutavam o chão. Isso para a delícia dos meninos, que decretavam:

– Tá vendo? Bobobol é coisa pra macho…

O planetinha estava mudando rápido e agora, donde já se viu, já era permitido jogar Bobobol sem ter aquilo no meio das pernas. Já havia até Copa do Mundo Feminina de Bobobol. Cada vez mais meninas gostavam, ou melhor, podiam demonstrar seu apreço pelo esporte do pé na bola. Portanto, é claro que as moças também começavam a botar a bola debaixo do braço e a jogar nos campos das cidades, vilas e aldeias.

Nossa doce Eukali era uma dessas meninas. Adorava o Bobobol. Era torcedora fervorosa do Sou Omaior do Kud Omundo FC. Já na favela tinha arriscado seus primeiros pontapés na bolinha que à época era feita com papel socado e uma meia velha que mamãe havia jogado fora. Quando ela chegou no então lindo campus da UFFa, com seus extensos gramados à beira-mar, Eukali logo pensou numa peladinha de final da tarde, ao som das ondas.

Ainda caloura, descobriu que havia uma competição dos alunos do Instituto de Ciências Desumanas e Proctologia, a famosa Copinha BrontoCiroSauro de Bobobol. Essa homenagem fora feita quando o famoso e cultuado dinossauro ainda estava vivo, dando aulas para auditórios lotados e lutando como nunca na assembléia dos sábios.

A doce Eukali logo organizou um time com suas amigas. Era o Passa Essa Bolapramim FC. Ela e sua inseparável amiga Ocorpo Ehmeu, preparam toda a papelada e foram até o Escritório Acadêmico inscrever a equipe, ambas já excitadas (olha a maldade aí!) com a perspectiva de épicas pelejas naqueles verdes gramados da UFFa.

Vigé Simo Período, secretário geral do Escritório Acadêmico do Curso de Sexologia, foi quem lhes deu a má notícia. Mulher não podia jogar a Copinha de Bobobol.

– Como assim, não tem nada escrito no regulamento, alegou a doce Eukali

– Não tem porque não é necessário, todo mundo sabe que mulher não joga Bobobol

– Tão com medo de perder pra gente? Desafiou Ocorpo Ehmeu, que tinha um estilo retórico mais contundente do que a amiga

– Nosso medo é machucar vocês, vocês são o sexo frágil, é feio bater em mulher…

– Não é isso que mostram as estatísticas do espancamento de mulheres no Kud Omundo, retrucou Ocorpo

– Entendemos o ponto de vista das companheiras, mas não podemos aceitar a inscrição do Passa Essa Bolapramim na Copinha BrontoCiroSauro de Bobobol…

– Companheira é o cacete seu Vigé, agora é guerra, tu vai ter que dormir abraçado com a bola, avisou Ocorpo. Nós vamos mobilizar as companheiras de verdade e vamos fazer uma greve de sexo de um mês, prorrogável ad infinitum, até vocês aceitarem Passa Essa Bolapramim. Vocês serão sexólogos só na teoria, ou então, vão te que ficar comendo uns aos outros eternamente, antes ou depois do Bobobol, vocês escolhem. Agora descobri porque o esporte tem esse nome…

E foi assim que começou a Guerra dos Sexos no então aprazível Campus da UFFa, à beira do Oceano Atlântico…

mas dela trataremos no próximo episódio d’ As aventuras da Dra. Eu Ka Liptus, se os deuses continuarem bons…

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OBSERVAÇÃO: Esta é uma obra FICCIONAL, inspirada em processos realmente existentes, mas não em pessoas. Semelhanças com pessoas reais são apenas coincidência, sem dúvida fruto da frequência com que determinadas coisas ocorrem nos ambientes retratados.