/AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 20. DE VOLTA À VACA FRIA…

AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 20. DE VOLTA À VACA FRIA…

De volta à vaca fria…

Depois deste intermezzo romântico, estamos de volta à vaca fria, quer dizer, à doce Eukali, que naquele tempo não fazia múuuuu para tudo e muito menos era gelada feito a morte.

Ela estava com muitas saudades do seu amigo Hernando NãovouficarCalado, um dos poucos homens de verdade naquele Cancrus, no sentido rosiano homem humano do termo. Ele não deixara lenço nem documento, muito menos endereço. Apagara todos os traços de si nas redes anti-sociais e não tinha nem mais emílio. Dizem que lá no interior de Minas ou em Lumiar, ou seja lá onde for que ele esteja, fundou uma seita chamada oio-no-oio e que pregava que só se pode conversar ao vivo, respirando o mesmo ar e debaixo do mesmo céu. Por um grande amor a gente faz tudo, não é mesmo?

Mas a doce Eukali, enquanto isso, subvivia no Campus do UmDiaNãoVouMaislá, tendo que tratar de assuntos bem mais mundanos. Seus cabelos, por exemplo. Todos sabem que a doce Eukali era uma legítima mulata sarará brasileira, que tinha o melhor de dois mundos ou de Kud Omundo. As formas afro-calipígias, por um lado. Por outro os tão desejados, imitados e sobretudo tingidos cabelos louros. Acontece que Eukali, a doce (mudei a ordem só pra variar um pouco), havia arrranjado um namorado e bota namorado nisso.

Agora que Játenhoaté Kurriculolattes fugira com todo amor que houver nessa vida, Zou NeNegão havia se tornado o macho alfa da parada, quer dizer, do Cancrus. Alto, forte, preto e de tranças rastafari (embora ele desprezasse a diamba e já apreciasse em segredo um Beujolais, deve-se começar pelos clássicos), ZouZou como Eukalizinha o chamava, podia ser considerado o ser mais politicamente correto de todos os seres. Diante desta superioridade moral incontestável (vide Obama), Neném (como sua mãezinha ainda o chamava) achou-se no direito de intervir na política capilar da sua namorada:

– Docinho, e esse seu cabelinho?

– O que é que tem, meu NeNegão querido?

– Esses cachinhos pegam mal, ainda por cima sendo louros…

– Sou sarará, nunca ouviu falar?

– Pra mim só tem preto e branco e o pior traidor é aquele que fica em cima do muro

– Poxa, mas eu nasci assim, tenho alguma culpa?

– Culpa é coisa de cristão, não quero saber dessa tralha, esses canalhas justificavam a escravidão

– Tá fugindo da questão, amorzinho, posso ser condenada pelos meus cachinhos louros?

– Não só pode mas já está sendo. O grupo ao qual pertenço tá me cobrando, dizendo que não posso namorar uma loura…

– Qual grupo, aqueles ridículos do 171% preto? Aquele bando de hipócritas que vive comendo aquelas louras de intercâmbio neurastênico que aparecem aqui na UFFa?

– Não queima meus brothers, de vez em quando a gente precisa renovar a frota… trocar o óleo…

– E eu com isso? Querem o que, que eu raspe a cabeça e coloque uma peruca Black Power?

– Que é isso, amor, não é preciso tanto…

– O que tu quer então?

– Na moral, se tu pudesse tingir o cabelo de preto bem preto e passar uns produtos que tem aí no mercado pra deixar o cabelo black mais natural seria bom demais…

– Nada disso ZouZou, tu não é de nada mesmo, não tem peito nem pra encarar um bando de falsos irmãos. Saudade do Hernando, aquilo é que era um homem de verdade. Quer saber, agora tou em greve branca, sabe como é?

– Pirei na batatinha, tou por fora…

– Só vou dar pra branco, se for moreninho tou fora, meu negócio agora é branquelo…

Foi depois desse episódio lamentável que a doce Eukali começou lentamente a endurecer e a perder a ternura, mas ainda faltava muito para ela se transformar na famosa e impiedosa Dr. Eu Ka Liptus…

Este processo será devidamente detalhado nas próximas histórias do seu, do nosso, do vosso sensacional folhetim:

As aventuras da Dra. Eu Ka Liptus…