As aventuras da Dra Eu Ka Liptus
030. Sede de vingança
Enquanto Eukali preparava sua entrada triunfal na pós-chateação, sempre sob a supervisão de Rei dos Pontos, Zou Negão e Stalin Émau MataUm MataGeral conversavam por entre as ruínas de um prédio em construção do Cancrus do UmDiaNãoVouMaisLá. Ora direis, ruínas de um prédio em construção? Aquela perversidade de ponta inventava essas coisas: começava-se a construir um prédio, abandonava-se a obra por dois ou três anos até ela sofrer a linda ação do tempo, sol, chuva, ventos. Quando ela tivesse se transformado em uma ruína, as obras eram retomadas. Quase uma versão pós-moderna do manto de Penélope. Só que ela estava gastando o limitado tesouro de Ulisses, enquanto no caso da Uffa era o bom e velho “dinheiro publico”, uma expressão kudmundista que significava: “não se esqueçam dos meus 20%”.
Pois bem, quase fugimos do nosso assunto, obrigados que fomos a explicar aos nossxs leitorxs os exóticos costumes de Kud Omundo. Sentados em um laboratório abandonado, Zou Negão e Stalinho matutavam acerca dos últimos desdobramentos.
– Porra, Zou Negão, agora piorou pro nosso lado, Eukali vai se tornar uma pós-chateada, quase intocável, nós somos meros chateandos…
– Pois é, Stalin, ainda por cima apadrinhada por Rei dos Pontos, ficou difícil pra gente…
– Peraí, só tem um jeito…
– Tu não vai encostar a mão naquele corpinho afro-calipígio…
– Calma, Negão, quem falou nisso?
– Sei lá, MataUm, tu é cheio das ideias sanguinárias, vive falando em pelotão de fuzilamento virtual no FoiceBuk…
– Calma, parceirão, o negócio é eu me formar nesse semestre e também entrar na pós-chateação pra poder perseguir a desgraçada.
– Tá maluco? Todo mundo sabe que você que você está escrevendo a monografia há mais de sete anos, já tem até bolsa de apostas pra quando você vai terminar…
– Os fins justificam os meios! Esse negócio de escrever monografia já era, vou logo encomendar uma, já tenho até o título: “O papel das comunas perversitárias na revolução mundial: prolegômenos de um estudo marxista-leninista-fidelcastrista”.
– Tu tá de brincanagem, Stalinho? Onde é que a gente vai arrumar o dindin, os caras que fazem monografia cobram por palavra, só nesse título tu vai perder um dinheiro…
– É só a gente fazer uma choppada e embolsar o dinheiro.
– Pirou, meu irmão?
– Nada, a gente simula um assalto e diz pros fornecedores que não tem como pagar.
– Tu só pensa em maldade o tempo todo!
– Vale tudo pela revolução!
Bastou entrar na Internet e digitar a palavra mágica “monografia”. Tinha pra todos os gostos e tamanhos. Mediante quantias módicas, uns quinhentos paus, em uma semana te entregavam uma monografia com teu nome na capa bordado em relevo e tudo. Até os agradecimentos já vinham prontos, bastava você colocar o nome dos teus amigos, pais e pessoas queridas. Era só fazer as cópias, entregar uma pro orienta-a-dor, outra pro leitor cítrico e uma pra depositar naquele prédio que à falta de nome melhor chamavam de biblioteca, na esperança de que algum dia comprassem os livros pra colocar lá.
De vez em quando dava errado. Não é que tinha alguns PhDeuses que, talvez em um momento de tédio total, acabavam por se dignar a ler o trabalho? E aí mandavam refazer tudo. Tradução: pelo menos manda para alguém mais competente, que não copie tudo da Wikipedia, até a vala comum tem suas regras, tá pensando o quê?
E foi assim que MataUm MataGeral se viu formado em sexologia. Mamãe ficou orgulhosa do seu Stalinho, aquelas fofoqueiras da rua tinham que engolir o sucesso do seu filhote. As vizinhas, despeitadas, diziam que aquele menino era mau feito um pica-pau (com o perdão da redundância) e que nunca ia prestar pra nada. Só porque ele tinha umas brincadeirinhas criativas: colocava os amiguinhos no freezer (que batizara de Sibéria), obrigava todo mundo a fazer auto-crítica depois dos jogos de futebol de botão e fazia pelotão de fuzilamento com espingarda de chumbinho.
Agora ele era um chateado em sexologia e estava prestes a penetrar (ui!) na mítica instituição um sete um da Cape-se, o Programa de Pós-chateção em Sexologia da Uffa. Eukali, você não perde por esperar…
Conseguirá Eukali escapar da sinistra vingança tramada por seu ex-amante Zou Negão e por seu comparsa MataUm MataGeral? Rei dos Pontos virá em seu auxílo? Serão nossxs leitorxs capazes de aturar mais 39 histórias desse dramalhão perversitário de quinta categoria?
Tudo isso e muito mais nos próximos capítulos da sua, da nossa novella ex-foicibuquiana “As aventuras da Dra. Eu Ka Liptus: uma vida em 69 histórias bem sacanas”…