/AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 26. A Pós-chateação

AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 26. A Pós-chateação

026. A Pós-chateação

Sem essa de ficar meramente aborrecido, entediado até a morte, com um sono invencível durante as suas dinâmicas aulas da chateção em sexologia. O negócio bão mesmo, e dá-lhe negócio, era a pós-chateção em Sexologia na Uffa. Era ali que moravam os PhDeuses do 5o. andar do Bronco Zero. Nada melhor do que uma obra ficção de quinta categoria para falar disso. Ficção no sentido do termo latino fictio, algo construído, mas não necessariamente algo mentiroso saído da cabecinha doentia do autor, este louco de pedra, ou melhor, do Rocha, com muito orgulho, terra de gente que ganha o dinheiro com o seu suor e não com deserta-ação dos outros.

Ninguém conta essa história, não é mesmo? Mas há muito tempo, na Sexologia na Uffa só havia um curso de chateção e olhe lá, era uma chateaçãozinha de nada, do outro lado da poça, nem havia ponte, pedágio, engarrafamento, todos estes progressos. Daí veio o primeiro de abril de 1964, tanques na rua, pé na porta e a piada de chamarem de revolução. Até aquele momento nada sublime da nossa História, o mais importante departaminto de sexologia de Kud Omundo ficava do outro lado da poça, no centro da cidade do Rio de Festeiro. Lá o couro comeu firme, com um diretor X-9 invadindo o pátio a liderar uma tropa de gorilas da diz-que-é-dura-e-não-foi-mole. Foi gente presa, processada, jubilada, processada de novo pra firmar e, por fim, exilada. O departaminto foi literalmente destroçado. Enquanto isso, do outro lado da Baía, havia repressão, mas em comparação era bem menor, nem a diz-que-é-dura-e-não-foi-mole ligava muito para aquela terra de papa-goiaba.

Foi aí que muitos alunos e professores atravessaram a Baía, nem que fosse nadando, para começar tudo de novo na Terra de Arara-bóia. Outros, quando voltaram do exílio, também encontraram ali abrigo e um mínimo de tranquilidade. Vieram pelo menos três monstros sagrados da sexologia: Maria Yedda Linhares, Eulália Maria Lahmeyer Lobo e nosso já conhecido BrontoCiro Sauro. Reza a lenda que este último era capaz de carregar todo o departaminto de Sexologia da Uffa nas costas e que teria feito isso anos a fio. Sendo assim, não é nenhuma inverdade histórica afirmar que, de certo modo, a fama eterna da Sexologia da Uffa é em parte, quem diria, um filho da diz-que-é-dura-e-não-foi-mole.

Mas todos haviam se esquecido daquele começo pouco glorioso. Agora havia um quarto de século que aquela era uma Pós-Chateação ISO-9000, eles tinham nota sete da CAPE-SE, o grau máximo, porque a CAPE-SE não era de dar dez pra ninguém. Jovens e promissores sexólogos e sexólogas acorriam de todos os cantos de Kud Omundo e olha que não faltava cantinho pra se esconder nesse território vastíssimo. Vinham conhecer os PhDeuses e suas maravilhosas teorias e produções. E sonhavam em um dia abandonarem a vida de comedores de pão que o CêNãoSabeOpq amassou para se tornarem imortais, quem sabe até no mitológico quinto andar do Bronco Zero.

Os PhDeuses adoravam carne nova, mas não me entendam mal, estamos falando do ponto de vista meramente sexológico, nada mais. A maioria deles preferia dar aulas no primeiro semestre, quando chegavam novos alunos. É que os novatos eram orientandos em potencial e orientandos significavam mais pontinhos no Ku-que-rri-não-latte e mais pontinhos no dito cujo significavam mais dinheiro, travestido da disputada bolsa de mergulha-na-dor do CêNãoSabeOpq. Fazer rodar aquela bolsinha era um peso, comprovado pelas estatísticas crescentes de adoecimento dos dor-não-sentes (mais). Os dizes-que-sentes também se queixavam muito, mas quem é que vai ligar pra isso? Tem gente que reclama de barriga cheia, são uns ingratos.

A pós-chateação em Sexologia na Uffa era um mundo à parte. Tinha até um conjunto de salas próprias, onde nunca se dava aula, pois aula era coisa da chateação, na pós-chateação ninguém estava interessado nas aulas, é lógico. Só se pensava em pesquisa e na redação da deserta-ação ou da tese de dor-tourado. A deserta-ação tinha esse nome porque era impossível fazer algo decente em meros dois anos. Claro que todos fingiam que dava e carimbava-se o passaporte para a próxima fase, todos sabiam que era a tese de dor-tourado que marcava o início real da carreira de um futuro PhDeus.

O método de exame dos trabalhos era curioso, mas agora estamos em solo sagrado, claro que ali não valiam as leis normais da física, da química nem da biologia, na verdade, da biologia até que… Bem, não nos percamos neste cipoal de possibilidades. O que interessa é escancarar para o nosso improvável leitor ou leitora os recônditos daquela região mítica. Os trabalhos eram examinados pelos próprios PhDeuses entre si. Para ficar mais claro: o PhDeus A era orienta-dor, de dor eles entendiam muito, de um aluno que chamaremos de Mickey e o simpático ratinho de laboratório tinha seu trabalho examinado pelos PhDeuses B-C-D. Quando o PhDeus C, por exemplo, orientava o Tio Patinhas, ele chamava para a banca (não confundir com banco Santander, por favor) os PhDeuses A-B-D. E assim quase indefinidamente, em combinações infalíveis. Eles chamavam isso de excelência, decerto porque dali sairiam vossas excelências, os PhDeuses. Estes não são meros mortais, como lembra Lima Barreto, nosso mestre, que nunca conseguiu o valioso, como vimos, canudo:

Ah! Doutor! Doutor!… Era mágico o título, tinha poderes e alcances múltiplos, vários, polifórmicos… (…) as gotas da chuva afastar-se-iam transidas do meu corpo, não se animariam a tocar-me nas roupas, no calçado sequer. O invisível distribuidor dos raios solares escolheria os mais meigos para me aquecer, e gastaria os fortes, os inexoráveis, com o comum dos homens que não é doutor. Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca e cartola, inflado e grosso, como um sapo-intanha antes de ferir a martelada à beira do brejo; andar assim pelas ruas, pelas praças, pelas estradas, pelas salas, recebendo cumprimentos: Doutor, como passou ? Como está, doutor ? Era sobre-humano !…”

Ali no quinto andar, o método de transformação de um “comum dos homens” em um dor-tou era tão perfeito que em décadas e décadas de funcionamento da pós-chateação nenhum, eu digo e repito, nenhum candidato ao dor-tourado deixou de ser aprovado e de receber seu diploma de futuro PhDeus em Sexologia pela Uffa. Pelo dedo mindinho, mesmo com a unha suja, se conhece o gigante. Isso já basta para demonstrar a grandeza do maior, melhor e mais perfumado Departaminto de Sexologia do Ocidente.

Era nesta terra de gigantes que a nossa antes doce Eukali pensava em buscar acolhida, para fugir da fúria daqueles que agora a perseguiam valendo-se de métodos espúrios, falácias, mentiras deslavadas e várias latas de spray para pichar as paredes do Cancrus.

Será que a nossa heroína conseguirá escapar das garras (nota da revisora: melhor tirar essas garras daí…) dos seus cruéis inimigos? Será que ela recompensará Rei dos Pontos, seu salvador incontestável, com seu amor? Será que vocês conseguirão ainda ler as quarenta e três histórias que faltam para o “The End”?

Tudo isto e muito mais, somente

nas próximas histórias do seu, do nosso, do vosso sensacional folhetim eletrônico-ex-foicebukiano:

 

As aventuras da Dra. Eu Ka Liptus…

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OBSERVAÇÃO: Esta é uma obra FICCIONAL, inspirada em processos realmente existentes, mas não em pessoas. Semelhanças com pessoas reais são apenas coincidência, sem dúvida fruto da frequência com que determinadas coisas ocorrem nos ambientes retratados.