/AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 8. Para que serve o diploma

AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 8. Para que serve o diploma

  1. PARA QUE SERVE O DIPLOMA

O caminho para a glória não foi um mar de rosas. Encarar Kur Aka e sua barba cor de papoula, sua afetação, seus termos rebuscados, não era fácil. Mas o que ocorreu dentro das quatro paredes do quarto foi ainda pior. Fisicamente, ele era um sapo intanha, inflado de vaidade quase a ponto de arrebentar. Caso um sapo pudesse ser tão peludo, é claro. E usasse barba roxa.

Eu Ka Liptus estava quase arrependida de tê-lo seduzido, mas agora não podia voltar atrás, era todo um futuro radiante que estava à sua espera: mestrado, doutorado, pós-doutorado e depois… Nessa hora lembrou de uma aula do Al Tivo, aquele chato, sempre estragando a festa, que dizia que depois do pós-doutorado não havia para onde correr, era a hora da morte. Mas enfim, ali ela estava, diante do sapo com barba violeta, ou melhor, diante do respeitadíssimo Dr. Pós-Doutor, o homem, a lenda, o sexólogo dos sexólogos, Kur Aka em pessoa.

Kur Aka estava quase fora deste mundo. Limitava ao máximo o seu contato com as castas inferiores, sobretudo a ralé da ralé: alunos de graduação. Viajava o mundo todo a falar do orgasmo vaginal enquanto seus orientandos sujavam as mãos no corpo a corpo, por assim dizer, com os bárbaros. Era membro, por assim dizer também, de um rol incomensurável (palavra utilizada aqui como modesta homenagem a seu domínio do vernáculo) de revistas científicas, já não havia peito onde colocar tantas medalhas, condecorações. Estava sempre a par da última descoberta da sexologia, vinda, como todos sabem, do Velho Continente, Paris, Londres, Amsterdam.

Tinha tudo, ou melhor, quase tudo. Ao contrário de muitos, quase todos os dinossauros, Kur Aka não era amado. Muitos o admiravam, até o invejavam. Era temido. Era reconhecido. Suas aulas, quando se dignava a entrar em sala, eram excelentes. Mas os selvagens, como ele gostava de se referir aos alunos, tinham uma espécie de sexto sentido animal. Percebiam que havia um grande espelho invisível no fundo da sala. Kur Aka não dava aula para eles, Kur Aka adorava mirar sua própria erudição e ostentar seu poder.

“A erudição é burra”, lembrou-se novamente a ainda jovem de corpo e alma Eu Ka Liptus, das palavras do Al Tivo, felizmente transformado em cinza. E eu, que não tenho nada de burra, se tiver que engolir um sapo intanha para subir na sexologia, vou beijá-lo como se fosse um príncipe.

Mas ela era muito inexperiente, estava longe de ser a bolsista AAA do CNãoTemPq que iria tornar-se. Mas afinal, quem poderia prever o que aconteceu naquela noite?

Depois de muito vinho francês de boa cepa, foram finalmente para os finalmente. Ela imaginava um Kur Aka afoito pelas carnes tenras e rijas, pois Eu Ka Liptus frequentava academia quatro vezes por semana pra isso. Caprichava naqueles exercícios pra deixar a bundinha dura, não era preciso ser sexóloga para conhecer a preferência nacional. Mas o grande (em todos os sentidos e direções) Kur Aka não era um reles brasileiro. A esta altura ele era um cidadão do (i)mundo, um PhDeus do Olimpo da Ciência sexológica.

“As relações de classe” estão presentes até nos lugares mais inesperados, parecia repetir Celo Baró nos seus ouvidos, quando o vasto sábio lhe fez o pedido para lá de incomum:

– Veste isso aqui no banheiro e volta, rápido

Era um daqueles antigos uniformes de babá ou de empregada, limpinho, cheiroso, branquinho, com avental e tudo. Aqueles que se usavam quando ainda não havia caído a ficha de que a escravidão havia acabado. Peraí, deixa a discussão sociológica pra outra hora, agora é a hora do vamos ver…

Eu Ka Liptus não titubeou, subserviência e ciência dão uma boa rima, embora não sejam a solução. E até que ela ficou um tesão naquele uniforme, Kur Aka sabia mesmo das coisas, um homem não se torna lenda à toa…

A cena dantesca que se segue será descrita com economia de detalhes, para poupar eventuais leitores, leitoras ou leitorxs… O fato é que diante dos olhinhos ambiciosos da antes doce Eukali, o gigantesco Kur Aka se postava, no centro do leito, do jeito que dizem ter Napoleão perdido a guerra, embora eu nunca tenha entendido essa piada.

Ver tão ilustre e incomparável sábio naquela posição humilhante, servil, passiva, foi pouco, muito pouco, perto do que aconteceu depois.

– Pega esse chicote aqui. Vai, sem medo, empunha o chicote.

Era um chicote de couro tradicional. Ou quase isso. No cabo, havia uma inscrição em letras góticas, provavelmente em latim ou celta: CAPE-se. E ao invés de pontas ou pontinhas, o chicote tinha pontinhos.

– Bate, bate com vontade, bate com raiva.

Raiva não faltava e Eu Ka Liptus desceu o braço bem malhado de musculação no sapo intanha peludo de barba violeta, completamente nu, bem mais feio do que quando veio ao mundo. O batráquio, quer dizer, o sábio, especialista, pós, pós-doutor, quase desmanchava de prazer a cada golpe.

Mas ainda não era o clímax da história. Quando já estava no ponto, o grande Kur Aka tirou o chicote CAPE-se das lindas mãos da ex-doce Eukali e lhe entregou um canudo plastificado. As instruções foram claras, era para introduzi-lo aonde vocês, maldosos, maldosas e maldosxs estão pensando. Totalmente baratinada, mas disposta a ir até o fim, Eu Ka Liptus ainda teve tempo de ler:

“University of Amsterdam, Sexology Department grants the title of PhD in Sexology to Mr. Kur Aka”

Querem mais? Vocês são insaciáveis, sempre querem mais. Houve ainda um pedido adicional de Kur Aka, o PhDeus:

– Faça a introdução lenta e suavemente enquanto repete, em voz alta e firme:

Doutor é o cacete! Você não passa de um ser humano.

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OBSERVAÇÃO: Esta é uma obra FICCIONAL, inspirada em processos realmente existentes, mas não em pessoas. Semelhanças com pessoas reais são apenas coincidência, sem dúvida fruto da frequência com que determinadas coisas ocorrem nos ambientes retratados.