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AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 22. Coisa de maluco

22. Coisa de maluco 

Mesmo devidamente trancafiado no gabinete cinco estrelas do seu laboratório com ar condicionado funcionando e bebedouro de água Perriê, Rei dos Pontos, com seu ouvido acurado, escutara os gritos provenientes da assembléia:

– Sarará sem vergonha…

– Amante de branquelo, traidora da raça…

– Contra-revolucionária safada!!!

Foi nesse contexto histórico que Rei dos Pontos fez sua entrada e saída triunfal da ordinária assembléia, já enlaçando Eukali com seu braço esquerdo (era importante manter as tradições).

Meu PhDeus, me salvaste… como posso te retribuir?

Calma aí, minha gente, essa cena de novela vai ter que ser interrompida um pouquinho (tem que fazer render o suspense, assim mandam os manuais de sub-literatura)… Vamos ter que tratar de algo bem mais desagradável, a conspiração dos anti-eukali, verdadeira coisa de maluco…

Absolutamente furiosos diante da sensacional escapada de Eukali com seu salvador a quem ela seria e-ternamente grata (ou quase isso), Zou Negão e Stalin Émau MataUm MataGeral decidiram convocar uma reunião a portas fechadas dos seus “homens”. Portas fechadas havia muitas, o problema era conseguir a chave, só PhDeuses abrem todas as portas, todo mundo sabe… Diz-se que acabaram fazendo a reunião em um dos 19 banheiros interditados do Bloco Zero, banheiro interditado era um bom lugar para eles fazerem o que iriam fazer.

– Alguém tem que enquadrar essa neguinha metida a besta, explodiu Stalin, explodir era sua especialidade.

– Ex-neguinha, faça-me o favor, disse Zou Negão, meio pê da vida por não ter falado em primeiro lugar. Nem preta 100% ela é: todo sarará é um traidor da raça em potencial…

– Essas questões raciais eu deixo pra ti, meu negócio agora é beber o sangue dessa traidora de canudinho na jugular…

– Pois é, mas como é que a gente vai fazer, o Cancrus tá numa de horror mesmo, só Nosso Digníssimo Feitor é que não sabe…

– Esquece esse papo de verdade, ZouZou, o negócio é atochar uma acusação de racismo nessa sarará, ex-neguinha, sei lá, pra mim num interessa. O negócio é ferrar essa anti-revolucionária e nada melhor do que usar a arma fuderosa do politicamente correto…

– Prum cara estourado que nem você, Stalin, até que tu tá usando o cérebro direitinho. Pensei uma coisa: e se a gente acusasse ela de ter dito que a universidade se transformou num navio negreiro…

– Assim a gente fode ela, disse aquele que havia sido esnobado pela então doce Eukali, mostrando que Freud tem razão quanto ao ato falho.

O ato falho dele era pouco, muito pouco, perto do ato falho, canalha e covarde, por mentiroso, que foi tirar uma nota contra Eukali, de repúdio ao racismo vil que ela demonstrara ao fazer aquela comparação revoltante.

Nada daquilo era verdade, é lógico, mas todo mundo ali, no universotário, sabia que a verdade é apenas o resultado de micro-relações de poder, ou seria de relações de micro-poder, sei lá, faltei essa aula…

Seja lá como for, isso foi o início de uma das guerras sem sangue mais sangrentas que aquele Cancrus já havia visto e olha que essa terra de PhDeuses gostava de uma guerrinha…

Mas tudo isso e mais alguma coisa (é sempre bom prometer um brinde, que é apenas uma dádiva falsa) será devidamente tratado

nas próximas histórias do seu, do nosso, do vosso sensacional folhetim eletrônico-biônico:

As aventuras da Dra. Eu Ka Liptus…

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OBSERVAÇÃO: Esta é uma obra FICCIONAL, inspirada em processos realmente existentes, mas não em pessoas. Semelhanças com pessoas reais são apenas coincidência, sem dúvida fruto da frequência com que determinadas coisas ocorrem nos ambientes retratados.