Assembléia dos PhDeuses
A foto de Hernando NãovouficarCalado acabando com a raça (por assim dizer, que todos sabem que raça não existe) dos cracks de laboratório inundou todas as redes sociais, começando pelo onipresente, onipotente e maledicente FoiceBuk. Hernando estava lindo, poderoso e parecia até ter um sorriso maroto nos lábios de mel. Foram bilhões de curtidas e não sei quantos compartilharam daquela alegria de finalmente ver os cracks de laboratório perderem uma, ainda por cima para um bando de muié e um pansexxxual renomado.
Mas o ânimo dos frequentadores do Cancrus do UmDiaNãoVouMaisLá se acendeu ainda mais, porque naquele dia haveria a tão esperada assembleia dos PhDeuses. Vinha até gente de fora para ver aqueles bichos, quer dizer, aquelas entidades, sumidades, sei lá como defini-las. O feitor da UFFa mandara construir uma cela especial, gigantesca para poder caber o super-ego de tantas pseudo-divindades reunidas, sem falar no peso do saber (não confundir com sabedoria) e dos títulos. Seria impossível, ainda mais para um escriba tão limitado quanto este, descrever com um mínimo de rigor epistemológico, sociológico e patológico tão ilustre congregação de doutores, pós-doutores e o escambau.
Mas vamos tentar, como sempre, fazer o melhor possível. Ali estavam, em pessoa, porque para aquela reunião de suma importância não enviavam seus pós-graduandinhos. Guardavam estes para fazer os servicinhos sujos feito dar aula no valão comum, a assim chamada graduação.
Em termos básicos, não científicos, infelizmente, aquela manada dividia-se em dois grupos, profundamente rivais, jurados de morte e danação eterna: Rive Droite e Rive Gauche. Sim. Direita e esquerda podem até ter acabado, mas Paris é eterna.
Os rivedroitistas preferiam um enfoque mais duro, abertamente conservador mesmo. Eram a favor do trancamento das celas, da pena de morte para alunos que ousavam discordar e, obviamente, do vinho tinto tradicional, da baguette e de “pagar” outra coisa terminada em ete que este escriba não ousa escrever. Claro que preferiam voar para Paris pela Air France, tradição era tradição, ainda mais agora que o banco Santander havia oferecido aquelas bolsinhas tão simpáticas.
Os rivegauchistas adotavam um enfoque mais sutil. Ao invés de confrontar e enquadrar os alunos, reduzindo-os à sua insignificância de seres sem canudo e anel de doutor, preferiam tão somente ignorá-los e, secretamente, desprezá-los. Em termos de vinho, também não abriam mão do tinto, mas de vez em quando aceitavam tomar (não se preocupem, não vou fazer piada com o verbo, desta vez!) um vinho branco, quanto mais branco melhor. Em termos de salgadinho preferiam o croissant, era mais macio e amanteigado e não tão abertamente fálico como a baguete. Numa curiosa inversão de valores em relação aos rivedroitistas, em termos sexuais preferiam o papai-com-mamãe mesmo. Adoravam a Air France, mas para ir para Paris topavam qualquer negócio. Ainda estavam em dúvida em relação às bolsinhas Santander, preferiam o método antigo: acumular pontinhos no Ku que Ri Não Latte, e ver aprovada sua 17a. saída para pós-doutorado em plena assembléia dos deuses.
E os dinossauros? Aonde ficavam nossos queridinhos seres pré-históricos. Celo Baró, Al Tivo, Adri Me Vacina e outros, rezava a lenda, não tinham lugar naquela assembléia divina. Diziam-se tão somente humanos e haviam preferido se refugiar na terceira margem do rio.
Naquele dia havia uma extensa pauta de questões, sete pesados itens:
1. Saída de professores
2. Saída de professores
3. Saída de professores
4. Saída de professores
5. Saída de professores
6. Saída de professores
7. Saída de professores
O jeito era começar do começo e encarar a primeira questão, a saída de professores.
Adentrou a arena o peso pesado dos rivedroitistas, o já abusiva e abusadamente descrito aqui Kur Aka de barba de papoula. Há quem diga que ao som de Sympathy for the Devil.
Kur Aka, nunca tirando a mão direita (detalhe importante) da sua bem aparada barba (dizem que pelo mesmo barbeiro do ex-presidente Kula-kula), abriu os trabalhos de forma insidiosa como era do seu costume:
– Tendo em vista o enorme abismo que nos separa destes seres lamentáveis que habitam a graduação, propugno (uau!) que façamos todos um vôo charter para Paris, o que redundará num barateamento de preços tal que poderemos até usar o que restará das nossas bolsinhas Santander em um bistrozinho razoável que conheço bem no coração de Saint Michel. Exceto nossos dinos, é claro, pesados demais, uma carga que não estamos dispostos a suportar. Esta proposta teria inclusive a vantagem de dar oportunidade a nossos pós-graduandinhos de estimação de pontuarem no Ku que Ri Não Latte.
Imediatamente se ergueu outra entidade-sumidade, o campeão dos rivegauchistas, Rei dos Pontos. O tal que havia conseguido quebrar todos os recordes de concessão de bolsas de pós-doutorado. Entrou ao som de Pra não dizer que não falei de flores. Do outro lado do rio, quer dizer, da egrégia sala da congregação de pseudo-sábios, Rei dos Pontos levantou-se para responder. Reza a lenda que por se apegar a seu passado rivegauchista, ainda lhe restava alguma dignidade (com o perdão pelo uso de expressão tão ultrapassada).
– Sou contra o vôo coletivo. E se o avião cai? Ficou provado recentemente que até mesmo aviões com heróis do quilate de Bastardo Santos podem cair. Seria o fim da ciência sexológica nacional. Quem iria nos substituir? Estes pós-graduandinhos ainda estão muito verdinhos, mal têm força para dar suas punhaladas epistemológicas, ainda nem esqueceram que foram alunos um dia, seria temerário (adorava esta palavra) tomar este rumo.
Na terceira margem do rio, os dinos, impotentes, urravam de indignação e choravam de tristeza, principalmente o chorão dos chorões o sempre contraditório Al Tivo. Celo Baró preferia achar graça na des-graça e Adri Me Vacina jurava vingança.
Enquanto isso, no Orum, Xangô afiava seu machado duplo e contemplava com profundo desgosto aquela reuniãozinha de PhDeuses. Achava-os tão desprezíveis que por ora tinha deixado o barco correr. Mas não ia deixar tão barato quanto uma passagem da Air France em promoção.
Zeus, no Olimpo, também fazia a manutenção do seu raio, que ultimamente andara meio descalibrado, dizem até que vinha caindo repetidamente no mesmo lugar, um paizinho sem vergonha chamado Kud Omundo. Alertado por Hermes, resolveu também dar uma olhada na assembleia dos PhDeuses. Claro que não gostou do que viu.
É que até mesmo naqueles lugares tão altos como o Olimpo e o Orum, dava para sentir o odor nauseabundo da arrogância, da prepotência e da injustiça.
Aquilo não iria ficar assim não, os PhDeusinhos não perdiam por esperar, nem vocês, mas não posso terminar tudo agora porque prometi 69 capítulos e alguém tem que cumprir suas promessas, não é mesmo?
Pedindo licença e ajuda aos verdadeiros deuses, sem falar nos amigos e amigas, espero vê-los amanhã, mais ou menos nesse mesmo horário e com certeza nesse mesmo bat-local. O autor (apenas um ser humano recém-alforriado)
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OBSERVAÇÃO: Esta é uma obra FICCIONAL, inspirada em processos realmente existentes, mas não em pessoas. Semelhanças com pessoas reais são apenas coincidência, sem dúvida fruto da frequência com que determinadas coisas ocorrem nos ambientes retratados.