/AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 12. Guerra dos sexos no Cancrus

AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 12. Guerra dos sexos no Cancrus

  1. Guerra dos sexos no Cancrus

    Quando viu a doce Eukali e Ocorpo Ehmeu darem as costas e irem embora do escritório acadêmico, Vigé pôs as mãos na cabeça, preocupado. Isso depois de dar a olhada regulamentar na direção da preferência nacional delas, que a doce Eukali batia um bolão, era toda certinha e Ocorpo Ehmeu era calipígia toda vida, tinha sido a mais votada disparado na eleição secreta entre os membros com aquilo no meio das pernas do escritório. Caraca, fiz m.. pensou ele.Pô, essas muié tá tudo doida, jogar com a gente? Desde quando um bando de menina bonitinha e gostosinha do Passa Essa Bolapramim FC ia encarar uma peleja contra um time de machos? Imagina elas pegando o Órfãos de Trotski, por exemplo. Ou então, pior, bem pior, o Breque Broque, o Diambeiros Unidos. Imagina aquelas pernas lindas enfrentando o terror dos belos gramados do Instituto de Ciências Desumanas e Proctologia, os Cracks de Laboratório. Os camaradas quebravam você ao meio na imoral e nos maus costumes, ninguém conseguia dividir uma bola com os desgranhudos. Eram decacampeões da Copinha de Bobobol. Quem era vice pra eles podia se considerar um vencedor. O grito de guerra deles já contava toda a história:

    “Crack de laboratório é mau, quebra um quebra geral”

    Enquanto isso, a doce Eukali e a apimentada Ocorpo Ehmeu reuniram a mulherada para uma assembléia das fêmeas do curso no tablado Lê Andro Superbonder, nome de um dinossauro já aposentado, um dos caras mais maneiros que havia tido o azar de frequentar aquele Cancrus maldito. Parêntesis, o cara era tão zen que durante a assembléia dos sábios, não largava do papel e da caneta. Certa vez, Al Tivo, ainda um garotinho dos seus quarenta anos, perguntara a Superbonder o que ele tanto anotava. Com aquele sorriso lindão que era sua marca registrada, Lê Andro não falou nada, apenas mostrou o papel cheio de caricaturas engraçadas dos PhDeuses debatendo questões importantíssimas. Para eles, é claro.

    Mas já nos desviamos de novo. As muié tá reunida no tablado. Coisa bonita de se ver, um bando de mulher reunida sem ser salão de beleza pra alisar os cabelos. A deliberação foi rápida e unânime. Os meninos iam tudo ficar vendo navios (e avião agora só no céu). Pra piorar a situação deles, viriam com as roupas mais apertadas e visualmente generosas que tivessem. Aquelas que elas costumavam usar na marcha das vagabundas (vadia é muito bem comportado) para enfurecer os caretas de todos os matizes. Eles que jogassem bobobol à vontade, com elas não tinha mais jogo.

    Na primeira semana, tudo certo. As meninas desfilando sua beleza e sua rebeldia pelos gramados e celas de aula do Cancrus. Os meninos, fazendo de conta que nem ligavam, treinando duro para a próxima Copinha de Bobobol. Nada de beijinhos à beira do oceano. Os sofás do escritório acadêmico tiveram um descanso, a cobertura dos prédios ficou deserta e o Cancrus parecia uma república islâmica, homi prum lado, muié pro outro. Esta sala de aula, afirmou Celo Baró com seu humor característicamente cáustico, tá parecendo cinema na Arábia Saudita: homens na direita e mulheres à esquerda. Celo Baró adorava tirar (e pegar) onda, eita dinossauro provocador toda vida.

    Na segunda semana, a doce Eukali, aproveitava para observar a experiência que depois serviria de base para a teoria que apresentou na primeira história dessa série. Aquela de que teu grau de felicidade está diretamente ligado à frequência com que praticas o sexo. Fosse como fosse, o fato é que os meninos estavam cada dia mais cheios de tensão. Nas partidas de bobobol, o couro tava comendo toda hora, o pessoal se estranhando, a toda hora se xingando em latim como bons sexólogos:

    – Seu viado, vai tomar no Ú…

    Por falar nisso, o panssexual mais famoso do Cancrus, o inigualável Hernando NãovaificarCalado, era talvez a única pessoa que estava achando a maior graça naquilo tudo. Sempre foi tratado com muita deferência por seus colegas maaaachos. Afinal, nenhum deles gostaria de correr o risco de ser acusado de viadosapatofóbico, o pior crime nos dias que correm. Dava até expulsão do escritório acadêmico manchando para sempre a reputação e impedindo o sonho dourado de participar da entidade-mor, o glorioso DezMané da Uffa. Mas era visto com desprezo inconfundível e a impressão que sempre tivera era de ser mal e mal tolerado.

    NãovaificarCalado tava achando graça em ver o comportamento dos mais machões dentre os sexologuinhos, como ele gostava de chamá-los. Não é que estavam cada vez mais gentis com ele? Não é que a toda a hora botavam a mão no ombro dele e enchiam a boca para chamá-lo de companheiro Hernando? Se eles estavam pensando que ele, logo ele, iria, digamos assim, furar greve, estavam muito enganados. Em um espetacular manifesto, divulgado em todas as redes anti-sociais, NãovaificarCalado declarou-se solidário à luta das meninas e decretou: aqui também não, seu machão.

    Terceira semana, os hominho já tudo doido. Nem diamba os acalmava mais. Vigé puxou uma reunião no escritório acadêmico:

    – Temos que aceitar a inscrição do Passa Essa Bolapramim… não há outro jeito, não aguento mais ser onanista…

    – Porra, vamos peidar prum bando de mulherzinha, disse Játenhoaté Kurriculolattes, o crack dos Cracks de Laboratório, sujeito mau dentro e fora de campo.

    – Até o Lenin teve que dar um passo atrás pra poder dar dois à frente, sentenciou Vigé, acabando com a discussão ao citar as escrituras

    – Tá bom, disse Kurriculolattes, com uma expressão sinistra nos lábios, mas vai ter jogo eliminatório…

    – Como assim, perguntou Vigé.

    – Para entrar no campeonato de bobobol, quem nem na Copa da Ueka, tem jogo eliminatório. Faço questão: Passa Essa Bolapramim versus Cracks de Laboratório.

    – Num faz isso não, meu irmão, cês vão massacrar as meninas …

    – Massacrar não, vamos dar um pau nelas, vamos mostrar que bobobol é coisa pra macho.

    Chega o grande dia. Jogo eliminatório para a Copinha de Bobobol. Cracks de Laboratório versus Passa Essa Bolapramim. Era um daqueles dias em que o sol parece ter decretado o intuito de acabar com a Humanidade. Como não eram doutores, pós doutores, o escambau, ainda não podiam esperar que o astro-rei desviasse deles os raios mais nefastos, todo mundo sabe que PhDeus que se preza tem cor de papel.

    No time das meninas, que entraram com seus shortinhos apertados, guerra é guerra, uma novidade. Com a camisa 24, ele, somente ele, o inigualável Hernando NãovouficarCalado. Os Cracks de Laboratório protestaram, timidamente:

    – Pô, o Hernando é homem, quer dizer…

    – É, disse Hernando, com as mãos nas cadeiras, rebolativo dialético, mas vocês nunca me deixaram jogar, não é?

    Játenhoaté Kurriculolattes acabou com a discussão em um átimo:

    – Qualé? Vão ficar com medo de jogar contra essa bichinha?

    Rola a pelota. Foi um jogo duro. Os cracks eram ph… Bons valores individuais, individuais até demais, ao contrário do time das meninas, um não passava a bola para o outro por nada. Cada um deles queria fazer o gol da vitória sozinho, desejava ardentemente a fama e a glória. Já o time das meninas mais o Hernando era diferente. Todo mundo atacava junto, todo mundo defendia junto. Bobobol que se joga só é só um bobobol que se joga só. Bobobol que se joga junto… é gooool, gol do Passa Essa Bolapramim.

    Fora uma jogada bem tramada por Ocorpo Ehmeu, que atraíra três cracks de laboratório pra cair em cima dela, eles viviam querendo papar aquela gostosa e enfiou uma bola pra doce Eukali na esquerda, que naquele tempo ela só atacava pela esquerda. A doce Eukali se livrou com sutileza daquele Vigé, metendo (a bola!) entre as pernas dele e levantando uma bola bem no alto da área.

    Subiram pra disputar o já mencionado Kurriculolattes e, adivinha quem? Claro que foi o Hernando NãovouficarCalado. Nem calado nem parado. Hernando, antes de subir para meter a cabeça (na bola!) com vontade e fazer o gol da vitória redentora, antes disso, se valeu de um truque que conhecia muito bem. Meteu a mão na documentação volumosa do Kurriculolattes, que mesmo odiando ficou excitado, desorientado e… o que foi fatal, plantado feito uma pedra. Enquanto isso, Hernando subia feito um codinome beija-flor, seus lindos cabelos ao vento, há quem diga que ficou cinco segundos parado no ar só para apreciar o momento, que aquele cabra da peste sabia viver. Cabeceou com um pouquinho de raiva e muito amor aquela bolinha pra dentro do gol dos Cracks de Laboratório.

    Doravante, Bobobol não era mais jogo pra homi, nem pra muié. Bobobol era jogo pra quem quisé.

    Esta partida épica, é lógico, penetrou para sempre nos anais da história do ilustre Departaminto de Sexologia da Uffa.

    Inté manhã pra todxs. Se os deuses e deusas e deusxs forem bons, é claro

    P.S: Amanhã, ao que tudo indica, teremos “A assembléia dos PhDeuses”, não percam

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OBSERVAÇÃO: Esta é uma obra FICCIONAL, inspirada em processos realmente existentes, mas não em pessoas. Semelhanças com pessoas reais são apenas coincidência, sem dúvida fruto da frequência com que determinadas coisas ocorrem nos ambientes retratados.