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AS AVENTURAS DA Dra. Eu Ka Liptus – 21. Onde passa boi, passa boiada

21. Onde passa boi, passa boiada

Ao invés de chorar as ilusões perdidas, a já não tão doce Eukali resolveu fazer o que todo mundo fazia no Cancrus, particularmente no Departaminto de Sexologia, cuidar da própria vida. Não sem dar uma espiada na vida dos outros, é claro. Uma das instituições mais antigas da vida universotária, facilitada por se tratar de um mundinho bem pequeno, bota pequeno nisso, era a D.I.V.A. Não conhecem? Claro que conhecem, só não estão reconhecendo a sigla. É o Departamento de Informações sobre a Vida Alheia. Informações e desinformações…

Eukali sentiu na pele sarará o que aquilo significava. Zou Negão, enlouquecido com a perda da namorada, que agora fazia a alegria dos branquelos inimigos, com o perdão da redundância em termos do pensamento de ZouZouzinho. Ele e seu grupo 171% negro, trataram de espalhar a calúnia de que Eukali era racista, distorcendo as palavras que ela pronunciara em uma assembléia dos alunos de sexologia da UFFa.

Foi uma assembléia pra lá de ordinária dos dizes-que-sentes, convocada para debater o estado calamitoso do Cancrus, sobretudo do Instituto de Ciências Desumanas e Proctologia. Banheiros interditados, celas trancadas, elevadores despencando, biblioteca sem livro, tentativas de estupro intra e extra-muros, pântano em dias de chuva, era uma pindaíba de dar gosto.

Apesar de tudo, a chama da indignação ainda ardia no peito (durinho, uma beleza), da heroína de nossa história. Ela se levanta, os malandro tudo de olho na preferência nacional dela, cachinhos dourados ao vento que vinha do oceano e manda ver:

– Esse abandono da perversidade púbica, esse Cancrus menor abandonado, as ruínas do nosso Instituto de Ciências Desumanas, as salas sem porta ou devidamente trancadas, tudo isso, companheiros, significa apenas uma coisa…

– O que, companheirinha? , disse em tom desafiador um dos amigos de Zou Negão, que nunca conseguira se recuperar do fato de que a doce Eukali nunca quisera dar pra ele

– Vocês não estranham a coincidência? Quando não tinha preto na perversidade, quando era só pros branquinhos, eram 25 alunos por sala ao invés dos 62 de hoje, tudo funcionava direitinho, embora muito mal…

– O que a companheira está querendo insinuar? Agora se levantava Stalin Émau MataUm MataGeral, o terror do movimento infantil da UFFa, defensor absoluto da presidenta de Kud Omundo, FoiLula QuemMeMandou (e ainda manda)

Eukali, que já estava naquela base do perdido por um, perdido por mil, botou as mãos na cinturinha de pilão, deu até um reboladinho dialético pra castigar a galera e mandou na lata:

– Quem tá insinuando é você, seu governistazinho, comigo o papo é reto. O que eu tou dizendo é que somos tratados que nem os escravos eram tratados no navio negreiro. Os traficantes de carne humana levavam pouca água nos navios para poder carregar mais peças. Enquanto os branquinhos tão indo estudar FGVaca, na PUCa e futuramente nas universidades americanas já invadindo nossa praia, nós ficamos aqui em meio às ruínas da perversidade púbica. Pra nós, nem água tem. Tem professor dando aula em pátio na UFFa, vai lá no Iaquixi pra ver só…

Foi um tremendo bafafá, uma turumbamba danada, um rolo que não tem tamanho. Os Foilulistas todos queriam bater na nega, quer dizer, na sarará, os 171% negros também, tava todo mundo querendo moer a carne da Eukali, um bando de “valentes”, tinha que ver. Parecia o fim da nossa antes doce Eukali, o que livraria xs leitorxs deste nosso folhetim eletrônico das 48 histórias restantes…

Mas é no momento das grandes crises que aparecem os grandes homens. Quer dizer, mais ou menos isso. Rei dos Pontos até que era meio baixinho. Mas fora um herói da Revolução, ou da tentativa de revolução, melhor ainda. Porque se a revolução triunfa, sabe como é… em seis meses perderia o glamour. Rei dos Pontos tinha autoridade e dela se valeu para entrar na assembléia dos dizem-que-sentem pisando suas botas feitas em Rumba, dizem que pelo mesmo sapateiro que Fuldéo Mastro, o lendário dirigente nonagenário que nunca fora otário.

– Companheiros, a hora é grave, exige calma. Disse Rei dos Pontos ao mesmo tempo em que se interpunha entre a turba ignara e aquela gracinha da Eukali…

E continuou…

– Estais tomando uma atitude temerária, esta jovenzinha tem direito a expressar sua opinião, devemos garantir sua integridade física (a mental já tinha ido pro cacete há muito tempo)… a deumole-cracia exige sacrifícios…

Eukali, enquanto isso, numa atitude instintiva talvez (correriam rios de tinta se quiséssemos debater esse ponto), colou seu corpinho admirável às costas do seu protetor, salvador e, como sabemos, futuro amor…

E foi assim que ela escapou da fúria assassina dos Foilulistas, de ZouZou e de seus amigos. Mas não por muito tempo, pois essa gente, quando não tem coragem de fazer pela frente, faz por trás mesmo, com o perdão da expressão, vocês só pensam nisso, hein…

O que irá acontecer com nossa heroína (espero que não seja apreendida no porto rs)? Para onde será levada por Rei dos Pontos? Fugirão para Paris e viverão felizes tomando um bom tinto todos os dias?

Todas estas perguntas começarão a ser respondidas nas próximas histórias do seu, do nosso, do vosso sensacional folhetim:

As aventuras da Dra. Eu Ka Liptus…