- OS ESCRAVOS DA Dra. EU KA LIPTUS
A nossa ilustríssima doutora, pós-doutora e o escambau, mantinha dois escravinhos bem adestrados, remunerados com Bolsa de Iniciação Científica do CNPq.Eram eles os aplicados Pu Xá Saco e Umdia Chegolá.Pu Xá Saco passava o dia inteiro copiando manuscritos na Biblioteca Nacional, repassados à doutora semanalmente, que com ela a rédea era curta. Não cabia a ele perguntar para que aquilo servia, nem tampouco a doutora lhe explicava, pois donde já se viu dar confiança a aluno? Mas a Dra. Eu Ka Liptus nunca se esquecia de mencionar o nome de Pu Xá Saco quando publicava seus livros, vai que alguém a acusa de ingrata, seria o fim do seu projeto de ter um programa diário na Ana Maria Braga, conversando com uma maritaca acerca das bizarrices sexuais ao longo da história. Pu Xá Saco podia até mesmo comparecer aos coquetéis de lançamento naquela livraria de Botafogo, comer uns salgadinhos (desde que usasse o guardanapo, alertara a doutora) e até mesmo receber uns tapinhas nas costas de colegas que se mordiam de inveja.
Umdia Chegolá era mais ambicioso. Não se contentava com tão pouco. Já estava se preparando para a prova de mestrado e havia até arranjado uns óculos mais apropriados. Sandálias, nunca mais. Nem cervejadas madrugada afora. Isso não era coisa para um futuro pesquisador. Mandara aparar a juba e raspar aquela barba de revolucionário. Tinha sonhos eróticos com a doutora Eu Ka Liptus, ele deitado, ainda na fase da barba desgrenhada, ela em pé acima dele, pernas abertas e uma pequena camiseta já meio rasgada… daí pra frente a visão nublava e ele acordava atrasado para sua ida ao Arquivo Nacional. Umdia Chegolá já frequentava todos os congressos científicos que podia, abrira uma caderneta de poupança somente para pagar as despesas cada vez maiores do seu investimento em si próprio. Seu modelo era a doutora, é claro. Ela já havia prometido orientá-lo no mestrado e ele já vibrava imaginando as sessões de orientação mirando aqueles cabelos dourados…
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OBSERVAÇÃO: Esta é uma obra FICCIONAL, inspirada em processos realmente existentes, mas não em pessoas. Semelhanças com pessoas reais são apenas coincidência, sem dúvida fruto da frequência com que determinadas coisas ocorrem nos ambientes retratados.