“13. Noel e o Pavão
Durante a era do rádio a compra e venda de sambas foi ampla e generalizada. Wilson Batista, que costumava vender seus sambas à mesma velocidade com que os compunha, chamava os compradores do samba alheio de comprositores. O maior deles talvez tenha sido Francisco Alves, o Chico Viola como era conhecido à época. Era uma verdadeira linha de produção: o compositor vendia a música para Francisco Alves, que entrava de parceiro na autoria e nos direitos comerciais. Cantor popularíssimo, Chico Viola divulgava a música através do rádio e depois era só colher o fruto dos direitos autorais. O famoso uma mão lava a outra.
Francisco Alves fazia tratos diferenciados com seus “fornecedores”. Ismael Silva e Nilton Bastos, por exemplo, bambas geniais do Estácio, praticamente “assinaram um contrato”: todos os seus sambas passavam a ter Francisco Alves como parceiro. Já com Noel a negociação era samba a samba. Mas Chico Viola logo bolou uma maneira de obrigar Noel a produzir pra ele. Engenhosamente vende um carro à prestação para o poeta da Vila, que foi obrigado a pagar o automóvel com músicas, compondo sem parar durante meses para quitar a dívida.
Era um calhambeque que mal conseguia sair da garagem e que logo foi apelidado de “Pavão”. De qualquer forma, por causa dele, Noel fez cerca de 40 sambas em alguns meses, um ritmo alucinante até mesmo para quem fazia samba como respirava. Há até quem diga que esta maratona teria exaurido e contribuído para o fim de Noel.”
Marcos Alvito. Histórias do samba: de João da Baiana a Zeca Pagodinho. São Paulo: Matrix, 2013.