- Senhora Liberdade
Wilson Moreira é um dos compositores mais queridos do mundo do samba. Além do gênio musical reconhecido por todos, é um sujeito gentil e educado, docemente tímido. Tem vários apelidos como Sorriso e Risadinha, mas o mais conhecido é Alicate, por conta do fortíssimo aperto de mão. Tem muita gente que quando o vê vai logo abraçando Wilson sem dar-lhe tempo de estender a arma poderosa.
Essa firmeza foi bastante útil a ele, que trabalhou muitos anos como agente do sistema penitenciário. Certa vez, quando perguntado como conseguiu trabalhar tantos anos na cadeia, Wilson respondeu com a simplicidade dos sábios: sabendo respeitar você é respeitado.
– É um negócio de homem pra homem. O cara tá naquela posição mas é homem.
Quando convidado, ele não se negava a dar shows na cadeia e muitas vezes viu os presos cantarem suas músicas.
Quem já entrou na cadeia sabe que há duas coisas que são universais: todo preso se diz inocente ou ao menos injustiçado e todo o preso tem como pensamento único alcançar a liberdade. O conhecimento dessa realidade inspirou Wilson Moreira a fazer um dos seus sambas mais conhecidos, em parceria com Nei Lopes, o maravilhoso “Senhora Liberdade”.
Abre as asas sobre mim
Ó, Senhora Liberdade
Eu fui condenado
Sem merecimento
Por um sentimento
Por uma paixão
Violenta emoção
Pois, amar foi meu delito
Mas, foi, um sonho tão bonito
Hoje estou no fim, Senhora Liberdade
Abre as asas sobre mim (bis)
Não vou
passar por inocente,
Mas já
sofri terrivelmente,
Por caridade,
Ó, Liberdade,
Abre as asas sobre mim (bis)
O mais bacana, como contou certa vez o próprio Wilson Moreira, foi a reação dos presos. Certo dia ele estava entrando de serviço quando Senhora Liberdade começa a tocar na rádio. Um deles, pensando que a música havia sido feita por um colega de infortúnio, diz para o outro:
– Olha só a música que o caído (gíria de prisão para preso sem dinheiro) fez.
O outro lhe corrige:
– Que nada, quem fez a música foi o chefe.
– Chefe, foi o senhor que fez essa música?
Na sua característica humildade, Wilson nada responde, pede somente que ouçam a música até o fim. Quando o locutor anuncia os autores, Wilson Moreira e Nei Lopes, Wilson é cercado pelos presos, que o abraçam em agradecimento.