/HISTÓRIAS DO SAMBA – 18. Samba de rádio aqui não

HISTÓRIAS DO SAMBA – 18. Samba de rádio aqui não

  1. Samba de rádio aqui não

 

Quando o rádio chegou ao Brasil no início da década de 20, ele era apenas uma curiosidade. A lei proibia a veiculação de anúncios e a programação era exclusivamente educativa: música clássica, palestras, aulas de ginástica e por aí vai. Vai ser um projeto do então deputado Getúlio Vargas, em 1928, que vai mudar tudo isso. Com a aprovação no Congresso da lei, passava a ser permitida a publicidade. Com isso as emissoras puderam se financiar e passaram a buscar meios de atrair a audiência. Aí é que entrava a música popular, principalmente o samba, deslanchando todo um processo de comercialização dos sambas.

 

O impacto disso sobre o samba e os sambistas foi enorme. Basta dizer que os sambas, pré-rádio, tinham apenas uma primeira parte. O samba era uma obra aberta, a primeira parte era cantada como uma provocação em uma roda, convidando os outros sambistas a dialogarem com aquele tema, como hoje ainda ocorre no partido alto. O samba era sempre uma obra coletiva, era totalmente diluída a concepção de autoria. Bide, um dos fundadores da Deixa Falar, a primeira escola de samba, lembra de uma primeira parte composta pelo famoso Mano Rubem, também do Estácio:

 

Eu ando sofrendo

Sem saber a razão

Vou implorar a Deus

Para conseguir a salvação

 

A gravação do samba para ser executado na rádio obrigou à feitura de uma segunda parte, caso contrário o samba seria breve demais para ser cantado. Além disso, o samba passava a ter uma versão definitiva, fechada e atribuída exclusivamente a seus autores. Hoje em dia cantamos nas rodas estes sambas da “era do rádio” como músicas clássicas e tradicionais, mas eles foram fruto de uma inovação e de uma transformação profundas do samba original.

 

Para se ter uma ideia, havia rodas de samba em que os bambas não permitiam que se cantassem os sambas gravados, que eles chamavam com desprezo de “sambas de rádio”.