/HISTÓRIAS DO SAMBA – 27. Beethoven na roda de samba

HISTÓRIAS DO SAMBA – 27. Beethoven na roda de samba

  1. Beethoven na roda de samba

 

Na história acima houve um processo quase natural de re-invenção de uma tradição compartilhada pela população afro-descendente do Rio de Janeiro. Mas muitas vezes o que havia era mesmo um processo amplo geral e irrestrito de aproveitamento de qualquer tipo de música, devidamente retrabalhada e transformada em samba. Ou então nem isso: roubava-se a música e se fazia outra letra como no caso do samba Trabalhar, eu, não! que foi composto por Almeidinha mas “reciclado” por Arnô Provenzano e Otolindo Lopes.

 

Além desses casos mais brutos, havia uma incessante busca de temas musicais não importando a sua origem. No carnaval de 1934 Lamartine Babo compõe Ride, Palhaço, baseado numa ópera italiana chamada… I Pagliacci. Houve adaptação de valsa, com o Danúbio Azul virando O Danúbio Azulou e até de tango argentino. Blecaute, na maior cara de pau, adaptou um jingle das lojas Brastel, que na sua mão virou Marcha da Banana. Canção de ninar, côco nordestino, frevos, canção mexicana, foxtrote, rumba, bolero, ponto de macumba, tudo virava samba.

Quem diria que Cidade Maravilhosa, hino não-oficial do Rio de Janeiro, tomou de “empréstimo” uma parte do 3º. ato da ópera La Bohème de Puccini? Ou que o não menos famoso Nega Maluca baseou-se numa embolada? Até O Sole Mio nas mãos de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira virou o samba Pra Seu Govêrno. Noel Rosa, quem diria, aproveitou nada mais nada menos do que o hino nacional para compor Com que roupa? Cantem “Ouviram do Ipiranga às margens plácidas” e em seguida “Agora vou mudar minha conduta” só pra ver…

 

Até Beethoven entrou na roda de samba, quando seu Minueto em Sol Maior virou marchinha composta por Benedito Lacerda e Herivelto Martins, ainda por cima tirando onda com o alemão:

 

“Minueto,

Tu és do Municipal

O maior, sem igual

Mas o samba não tem medo

Só porque tu não és,

Tu não és do carnaval…”