/HISTÓRIAS DO SAMBA – 32. O Corcunda de Notre Nice

HISTÓRIAS DO SAMBA – 32. O Corcunda de Notre Nice

  1. O Corcunda de Notre Nice

O centro da cidade já foi realmente o centro da cidade, o ponto de encontro de categorias profissionais e de pessoas com interesses comuns, legais ou ilegais. Havia concentrações específicas em determinados cafés: no Gaúcho, na São José, concentravam-se os artistas plásticos; no Rio Branco, na mesma rua, jogadores de futebol e dirigentes; no Alvadia, na Álvaro Alvim, a turma do jogo clandestino, no Amarelinho, na Cinelândia, escritores e jornalistas.

O café mais famoso da era do rádio, todavia, era o Café Nice, na Avenida Rio Branco. Ali era o ponto de encontro de compositores, cantores e pessoas ligadas ao rádio. Podemos dizer que era um verdadeiro escritório dos sambistas. Sobretudo a área onde era servido o cafezinho, que chegou a ser chamada pelo jornalista Nestor de Holanda de “mercado” e “bolsa de nossa música popular”, tal o número de transações que eram ali efetuadas diretamente.

Era comum que fossem deixados recados para os cantores ou compositores, pedindo que entrassem em contato ou avisando que um determinado ensaio iria começar mais cedo ou havia sido adiado. Os garçons já estavam acostumados a dar todo o tipo de recado. As notícias mais importantes, como avisos de sociedades de direito autoral ou de falecimento de pessoas do meio, eram coladas nos espelhos das portas.

O Café, como era chamado na intimidade, era frequentado por uma verdadeira seleção brasileira de compositores e cantores: Orestes Barbosa, Nássara, Herivelto Martins, Wilson Batista, Donga, Vadico, Ataulfo Alves, Noel Rosa e Chico Alves entre muitos outros.

A convivência entre esse pessoal era tão constante que todos tinham apelidos. Ataulfo Alves, por causa de seu gingado, virou Urubu Malandro, Blecaute era Negativo de Fotografia e Silvio Caldas era Saci ou Preto Velho. Orestes Barbosa, para seu desgosto, foi rebatizado por Wilson Batista de O Corcunda de Notre Nice.