/HISTÓRIAS DO SAMBA – 45. O que ficou para a viúva

HISTÓRIAS DO SAMBA – 45. O que ficou para a viúva

  1. O que ficou para a viúva

 

Segundo o jornalista e compositor Nestor de Hollanda, que viveu aquela época, “Música é comércio” era a frase que mais se ouvia no meio dos compositores. E os sambas eram tratados como mercadorias em todos os sentidos. Alguns compositores, antes de entregarem suas músicas para gravar, faziam uma espécie de “teste de mercado”. Iam até a Lapa e os crooners de orquestras e cabarés experimentavam a música diante do seu público e das profissionais da noite. Se fizesse sucesso entre elas já era meio caminho andado.

Uma vez gravada a música, havia que divulgá-la e aí era um verdadeiro vale-tudo. Os programadores musicais das rádios, à época chamados discotecários muitas vezes recebiam o famoso jabá. Uns recebiam em espécie, outros em gênero: tornavam-se “parceiros” nas composições.

Chefes de orquestra também levavam o seu para tocarem determinados sambas, sobretudo durante o carnaval, porque a marchinha era uma das “mercadorias” que mais davam lucro. Para um compositor, emplacar uma marchinha era como ganhar na loteria. Guardadas as devidas proporções, porque naquela época, embora as gravadoras lucrassem muito, nenhum compositor enriquecia, devido à máfia das sociedades de direitos autorais. Até mesmo Ari Barroso, quando morreu, tinha apenas um apartamento no Leme para deixar para sua viúva.