- Samba nos trilhos
Por falar em samba em trânsito, há que lembrar a história do samba do trem. Como é sabido de todos, o samba foi perseguido durante muito tempo. O próprio Zeca gravou um samba de Tio Hélio da Serrinha e Nilton Campolino que lembra um delegado cruel e seu destino inglório:
Delegado Chico Palha
Sem alma ,sem coração
Não quer samba nem curimba
Na sua jurisdição
Ele não prendia
Só batia
Era um homem muito forte
Com um gênio violento
Acabava a festa a pau
Ainda quebrava os instrumentos
Ele não prendia
Só batia
Os malandros da portela
Da serrinha e da congonha
Pra ele eram vagabundos
E as mulheres sem-vergonhas
Ele não prendia
Só batia
A curimba ganhou terreiro
O samba ganhou escola
Ele foi expulso da polícia
Vivia pedindo esmola
Mas se não era recomendável encarar a polícia e sua costumeira violência, os sambistas inventavam maneiras de driblar a repressão. O pessoal da Portela pegava o trem da Central todos os dias, voltando do trabalho. Marcavam uma hora na estação e embarcavam todos juntos, já com os instrumentos malocados em bolsas e sacolas.
Assim que o trem partia, o samba rolava solto, só parando nas estações pra não dar mole pra polícia. E assim eles iam cantando e sambando até Oswaldo Cruz. Essa tradição é relembrada todo ano no agora famoso Pagode do Trem, iniciativa do sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz. No Dia Nacional do Samba, 2 de dezembro, vários trens lotados saem da Central do Brasil com centenas de sambistas. Ao chegar em Oswaldo Cruz há uma celebração magnífica com diversas rodas de samba ocorrendo ao mesmo tempo.
Aquilo que começou como transgressão astuciosa hoje é parte do calendário de festas da cidade de São Sebastião. Nem tudo nesse mundo muda pra pior. Mas que aquele pagode proibido devia ser gostoso…