74. Tribunal do samba
Esse estabelecimento acabou sendo conhecido como Botequim da Velha Guarda, que tinha mesa cativa. Ali se montava um verdadeiro tribunal do samba: as novas composições eram avaliadas pelos mais velhos. Alvaiade, o professor e Manacéia, “ministro da justiça”, aprovavam ou condenavam os sambas com um aceno de cabeça ou um piscar de olhos. Se um levantar de sobrancelha de Zeus fazia tremer o Olimpo, os gestos destes dois eram sentença definitiva, sem apelação, embora a reclamação rolasse solta nos bastidores.
Manacéia era chamado de “ministro da justiça” por um motivo simples: embora descrito por Paulinho da Viola como “doce, humilde e sensível”, era o encarregado de suspender do grupo aqueles que se excediam na bebida e fazia a varredura dos camarins para checar se alguém não havia trazido algum álcool para as apresentações. Era amigo de todos mas difícil de enganar. Afinal, como lembra o próprio Paulinho, era um “falso ingênuo.”