/HISTÓRIAS DO SAMBA – 77. O Plano

HISTÓRIAS DO SAMBA – 77. O Plano

  1. O plano

Liso feito côco, Padeirinho resolve descolar algum com o editor de suas músicas, um italiano que ainda usava suspensórios e não largava do charuto de patrão na boca. O capitalista não quis nem conversa e aproveitou pra lembrar a dívida crescente de Padeirinho, enxotando-o do escritório. Bom cabrito não berra. Padeirinho saiu de fininho sem criar alteração. Fora humilhado por quem o explorava tomando 25% dos direitos da sua obra gravada. Deixa estar.

Na rua, Padeirinho bola um plano. O plano chamava-se Demerval. Demerval era trabalhador da estiva, sujeito honesto. Mas tinha uma pinta braba, com direito a uma cicatriz de navalha atravessando o rosto. Demerval ficou cabreiro, mas Padeirinho garantiu que ele não teria que fazer nada além de subir ao escritório com ele. Então tudo bem.

Quando entrou novamente no escritório, antes do italiano falar qualquer coisa Padeirinho foi logo explicando que o dinheiro que pedira era para saldar a dívida com o indivíduo que estava no corredor esperando. Caso contrário, o Demerval tinha dito que ia encestar todo mundo: Padeirinho, italiano, secretária e o escambau. Nem preciso contar o resto do filme. Ficou parecendo até aqueles anúncios mentirosos de financeira: “Crédito fácil! Seu dinheiro na hora!”